Habibi - Opinião

agosto 07, 2020



Tinha este livro há anos nas minhas estantes à espera de ser lido, mas aproveitei o desafio Agosto ao Quadrado, da Silvéria e do Fernando para, finalmente, ler este livro. E agora que o acabei, não sei bem o que li. Ou seja, penso que não há palavras para descrever este livro, as muitas histórias que encerra, o trabalho visual lindíssimo das ilustrações, a importância da linguagem, verbal, visual, simbólica, a verdadeira riqueza desta obra.

Na sua base, este livro conta a história de duas personagens, Dodola e Zam, que se conhecem muito novos, ela com cerca de 10 anos e ele com 3, ela cuidando dele até uma certa altura em que são separados, sem saberem o destino um do outro. E isto é muito, mas muito, resumido, porque a história deste livro é tão mais do que isto. Através das ilustrações exuberantes de Thompson, vamos conhecendo estas duas personagens e as suas vidas, os seus pensamentos, mas também a enorme rede de histórias retiradas da Bíblia e do Corão que, ora servem como forma das personagens entenderem a sua realidade, escaparem da realidade ou, ainda, como forma de reflectir num plano divino o que se passa no plano terreno. Aqui, as histórias das personagens entrelaçam-se interligam-se com as histórias de profetas, episódios e figuras do imaginário religioso muçulmano e judaico-cristão, transmitindo ao leitor uma riqueza de simbolismos e significados muito para além do óbvio. Temos outras tantas histórias escondidas por detrás das palavras, dos simbolismos, das ilustrações, de todas as referências religiosas, místicas, matemáticas que tão bem identificam a cultura islâmica. 

Qualquer coisa que eu diga vai parecer pouco, porque este livro é indescritível. A história não é fácil de se ler porque há partes angustiantes que tocam em temas importantes e difíceis, mas tudo é tratado de forma extremamente bela e sensível, seja pelas ilustrações, seja pela narrativa em si. Além disso, a narrativa não é linear. Há flashbacks, à medida em que temos a narrativa das personagens vamos tendo, ao mesmo tempo, a descrição de uma história de um dos profetas, a narrativa parece ligada à caligrafia e à geometria árabe, tornando o aspecto literário completamente interligado com as ilustrações. Em relação a isto, este livro é um verdadeiro festim para os olhos e ficamos facilmente embrenhados na história.

Este livro é para todos, até para aqueles que não têm por hábito ler novelas gráficas, como eu. É uma história que vai apelar a toda a gente, com a componente visual que é belíssima, tocante e marcante. Adorei este livro e quero, sem dúvida, ler o Blankets, do mesmo autor.

6/6 - Excelente

(Esta leitura conta para o desafio Mount TBR Reading Challenge)

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Detalhes

Editora: Pantheon
Páginas: 672
Sinopse:
"Sprawling across an epic landscape of deserts, harems, and modern industrial clutter, Habibi tells the tale of Dodola and Zam, refugee child slaves bound to each other by chance, by circumstance, and by the love that grows between them. We follow them as their lives unfold together and apart; as they struggle to make a place for themselves in a world (not unlike our own) fueled by fear, lust, and greed; and as they discover the extraordinary depth—and frailty—of their connection.
 
At once contemporary and timeless, Habibi gives us a love story of astounding resonance: a parable about our relationship to the natural world, the cultural divide between the first and third worlds, the common heritage of Christianity and Islam, and, most potently, the magic of storytelling."

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