A Arte e o Modo de Abordar o seu Chefe de Serviço Para Lhe Pedir um Aumento - Opinião

outubro 06, 2010

Título: A Arte e o Modo de Abordar o seu Chefe de Serviço Para Lhe Pedir um Aumento
Autor: Georges Perec
Colecção: Lado B, nº11
ISBN: 978-972-23-4433-3
Páginas: 64
Sinopse:

"Neste texto que só agora foi objecto de publicação em livro, Georges Perec explora os jogos e os limites da linguagem partindo de um curioso organigrama, contando numa única frase sem pontuação a história de um insignificante funcionário de uma grande empresa, que tenta chegar à fala com o seu chefe no momento mais propício a obter aquilo que pretende. O discurso narrativo cobre todas as opções, até à exaustão, nunca sendo exactamente o mesmo graças a ínfimas variações. Entretanto, a descrição vai destilando uma insidiosa ironia, em que o lúdico e o absurdo se combinam de forma genial."

Opinião:

Inicialmente, somos levados a pensar, pelo título, que o autor nos vai fornecer conselhos, alguma ajuda, para pedirmos um aumento ao nosso patrão. Mas nada nos prepara para aquilo que o livro realmente é. Um discorrer de possibilidades, de prós e contras, do que pode ou não pode acontecer, dos momentos mais favoráveis e menos favoráveis de o fazer, entre outras opções e variações de soluções para o mesmo problema.

O livro tem somente uma frase, sem pontuação nenhuma, que marca a repetição até à exaustão de um mesmo percurso, de um mesmo problema, de um mesmo discurso sem que se veja, à partida, solução. Marca também a ansiedade que se sente quando tem que se pedir um aumento: as voltas que se dá, qual será o melhor dia para o fazer, como o fazer, a que horas, a que dia... São voltas e voltas à cabeça que damos para, no final, a resposta ser negativa. Ou não.

No fundo, este livro não tem uma história, ou um ensinamento, ou algo que se lhe pareça. Fala-nos somente do facto de que temos que tentar e se, por algum motivo a coisa não resultar, há que esperar e tentar noutra altura. Mais ou menos seis meses depois.
É um livro que se lê em poucas horas, mas é preciso alguma atenção para o fazer, já que não há qualquer pontuação. Além disso, a repetição de situações, de opções, pode tornar-se confusa se não estivermos com atenção. Porém, são essas aparentes anomalias na escrita (repetição, falta de pontuação) que marcam o discurso e que dão ênfase a esse sentimento de impotência e ansiedade perante uma decisão que não depende da nossa vontade.

Curioso também o organigrama que vem no início do livro que praticamente resume-o. É-nos apresentado o problema e todas as variações que podem advir da tentativa de o solucionar. A que conclusão se chega? Aparentemente, nenhuma. Há que continuar a tentar...
É um livro curioso, com alguns momentos de ironia, de ridículo, que nos fazem sorrir e que nos mete no meio de um jogo quase de gato e rato em que, aparentemente, ninguém ganha.

3/6 - Bom, com reservas

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