Criar espaço para a leitura - não, isto não é mais uma lista!

outubro 29, 2019

Posts com dicas sobre como ler mais é o que não falta por aí. Este podia ser mais um, mas o facto é que também eu já escrevi sobre isso aqui e não me queria estar a repetir. A verdade é que queria falar sobre o tema sem entrar no estilo de lista com truques para conseguirem ler mais. Por isso, decidi que vou falar disso num estilo mais aberto e que se relaciona com a minha experiência. O que funciona para mim poderá não funcionar para outras pessoas e vice-versa, mas acho que é sempre bom ler o que os outros fazem e que os motiva a ler por prazer quando a vida é uma correria.

Se me seguem com alguma regularidade e/ou me conhecem pessoalmente, sabem que estou a fazer um doutoramento e tenho um trabalho durante a semana das 9h às 17h. Já por si só, não é fácil conjugar as duas coisas, se bem que tenho a sorte de, no meu trabalho, ter alguma flexibilidade para ir trabalhando na minha investigação também. Portanto, praticamente todo o meu tempo livre é dedicado a essa coisa chamada tese que já não posso ver à frente e da qual já só me quero ver livre. Mas, mesmo assim, mesmo tendo o meu tempo todo super preenchido, sentia falta de ler por prazer. De ler o que me apetece, que não tivesse nada a ver com o que faço ou que, tendo, não tinha que estar com um olhar analítico. Desde há uns poucos meses para cá, lá consegui motivação para voltar a ler por mim e para mim, mas esse tempo de leitura tem de ser muito bem pensado e encaixado na minha vida, de forma a que não pareça uma obrigação e para que, de facto, eu consiga desfrutar desses momentos.

O que funciona para mim é o seguinte: ler nos transportes públicos. Às vezes até faço um percurso mais longo para poder ler mais. Porque de facto são ali duas horas (uma para ir e outra para voltar) em que não consigo fazer nada e que posso aproveitar para ler. Há alturas em que o meu ritmo de leitura é mais rápido e consigo avançar bastante nos transportes, há alturas em que leio 15 páginas por dia e já me dou por satisfeita. Porque a disponibilidade mental também é muito importante, se não o mais importante para se conseguir ler.

Porque às vezes há demasiada ansiedade. Ou estamos deprimidos. Ou estamos tristes. Ou as coisas não correm bem com amigos, família, trabalho, saúde, o que quer que seja, e não nos conseguimos desligar. A leitura pode ser um bom escape de todas estas coisas e pode ajudar-nos a lidar com elas, mas às vezes é só mais um peso. Porque apesar de a leitura e de os livros serem tão preciosos para nós, a vida é feita para ser vivida e há momentos em que ela exige demasiado de nós. E não faz mal. 

Foi o que me aconteceu durante o doutoramento. A vontade de ler esteve sempre lá, mas não tinha tempo nem disponibilidade mental para nada para além daquilo que era mais imediato. Há uns meses, talvez por se aproximar a fase de revisão da tese e não tanto da escrita, a minha cabeça viu-se mais desafogada e voltei a ter vontade de ler, de acrescentar a leitura à minha rotina, a algo prazeiroso e que faço de forma consciente e com intenção. Há dias em que leio mais, outros que leio menos, e ainda outros em que não leio absolutamente nada - porque há dias assim. 

Estou bastante feliz por ter voltado a ler, ainda que a um ritmo lento, por ter criado uma conta de Instagram onde vou seguindo outros bloggers, youtubers, grupos editoriais, nacionais e internacionais, por ter voltado a estar a par de novos lançamentos e do que se vai passando nesse mundo porque, afinal, nunca deixei de fazer parte dele. Estive só adormecida, mas nunca saí dele.

E que bem me tem feito! Por isso, se estão a passar por uma fase menos boa em que lêem menos ou não lêem de todo, lembrem-se: Não. Faz. Mal. Entreguem-se ao que têm em mãos e voltem à leitura mais tarde. Os livros não vão a lado nenhum, vão continuar a estar à vossa espera para vos fazer companhia quando vocês lhes puderem dar toda a atenção que eles merecem. Agora ando com vontade de me juntar a um clube de leitura, acho que é uma boa forma de conhecer mais pessoas com o mesmo gosto que nós e uma motivação extra não só para ler, mas também para conversar sobre livros. Acho que isto também ajuda: encontrar pessoas com quem falar das nossas paixões para conseguirmos seguir com elas.

E com isto vos deixo. Se tiverem histórias semelhantes que queiram partilhar, força! Deixem nos comentários ou escrevam sobre isso :)

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1 comentários

  1. Ler por prazer, no ano passado, ajudou-me a manter-me sã. Aliás, se não tem sido isso, e outras coisas que não interessam para aqui, acho que ainda hoje estaria aqui a escrever a tese.
    Na minha experiência, o que importa é que a leitura seja intencional. Eu intencionalmente colocava de parte um momento em que não queria pensar na tese, ou dava comigo em doida ou com insónias. Assim, todos os dias, mesmo que fosse só por 5 minutos, pegava no kindle ou num livro e tentava ler pelo menos uma página. Se havia dias em que não conseguia ler, porque afinal também estava a trabalhar a tempo inteiro, e a trabalhar em atendimento ao público, não fazia mal. Importava era não pensar na tese, ou no que quer que fosse, e descansar.
    Hoje com tudo isso para trás, não ando ler. Talvez porque já leio imenso no meu atual trabalho, mas acho que é mesmo por neste momento não me apetecer ler. E não há nada de mal com isso. Sei que a vontade há-de voltar, volta sempre, mas neste momento tenho outras coisas com que me entreter.

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