On Earth We're Briefly Gorgeous - Opinião

março 09, 2021



Este livro é uma longa carta, cheia de emoções, memórias, feridas abertas. É uma carta do narrador à sua mãe que não sabe ler nem escrever em inglês. A mãe do narrador, um rapaz chamado Little Dog, é uma mulher que veio com a sua mãe do Vietname para os Estados Unidos, depois da guerra e, tal como acontece com várias comunidades de imigrantes nos Estados Unidos, nunca se integrou completamente na sociedade americana. Por isso, não sabe ler nem falar em inglês, as suas vivências ainda são um misto entre a cultura vietnamita e o mundo americano no qual ela não pertence. Por outro lado, Little Dog, é um rapaz que vive no limiar: entre a cultura do país em que nasceu, a América, e o mundo da mãe e da avó, no Vietname. E nesta longa carta que Little Dog escreve à mãe é colocada toda a sua mágoa, arrependimento, tristeza, memórias sobre si mesmo e os outros, memórias essas que se mesclam com memórias que não são suas, mas sim da sua mãe e avó. Só que a única certeza que tem, é a de que a sua mãe nunca a poderá ler. E talvez por isso mesmo, Little Dog se apresente tão vulnerável, tão disposto à partilha, num registo tão confessional e tão perto do fluxo de consciência que, por vezes, torna a narrativa fragmentada e um pouco difícil de seguir. 

Este livro é um marco. É um tour de force emocional pelos temas que abarca: desde tensões raciais, sexuais e de género, saúde mental, toxicodependência, violência doméstica, descoberta de identidade em todos os aspectos, tudo é unido pela linguagem poética que Vuong lhe imprime. Há, de facto, um foco na linguagem, de como ela está ligada às experiências que temos, às nossas memórias, à forma que encontramos para expressar determinados sentimentos. A linguagem, a sintaxe, as palavras são de extrema importância neste livro e fazem parte da história que Little Dog quer contar. Por isso, este é um livro que, apesar de curto, é preciso ser lido com atenção, devagar, degustando cada palavra. É uma história complexa com várias ramificações e que se torna tocante. Houve momentos em que só me apetecia saltar para dentro do livro e dar colo a Little Dog.

Gostei deste livro por todos estes aspectos, mas podia ter gostado mais se o tivesse lido noutra altura. Este livro estava na minha lista há vários meses e achei que estava na altura de o ler, mas a verdade é que, mentalmente, não estava com a cabeça para aí virada. Por ser um livro com uma estrutura narrativa mais fragmentada é preciso uma disponibilidade que eu, infelizmente, não tinha. Por isso, apesar de ter gostado do livro, de ter apreciado e notado todas as suas especificidades, não consegui desfrutar dele em pleno porque não era o momento certo para mim. Ainda assim, não posso deixar de recomendar este livro que, inclusive, já está publicado em português, com o título Na Terra Somos Brevemente Magníficos.

4/6 - Bom

(Este livro conta para o desafio Mount TBR Reading Challenge 2021)


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Detalhes

Lido no Kobo
Sinopse:
"On Earth We're Briefly Gorgeous is a letter from a son to a mother who cannot read. Written when the speaker, Little Dog, is in his late twenties, the letter unearths a family's history that began before he was born — a history whose epicenter is rooted in Vietnam — and serves as a doorway into parts of his life his mother has never known, all of it leading to an unforgettable revelation. At once a witness to the fraught yet undeniable love between a single mother and her son, it is also a brutally honest exploration of race, class, and masculinity. Asking questions central to our American moment, immersed as we are in addiction, violence, and trauma, but undergirded by compassion and tenderness, On Earth We're Briefly Gorgeous is as much about the power of telling one's own story as it is about the obliterating silence of not being heard.

With stunning urgency and grace, Ocean Vuong writes of people caught between disparate worlds, and asks how we heal and rescue one another without forsaking who we are. The question of how to survive, and how to make of it a kind of joy, powers the most important debut novel of many years."

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