Beloved - Opinião

setembro 13, 2014

Título: Beloved
Autor: Toni Morrison
Editora: Vintage
Páginas: 324
Sinopse:
"It is the mid-1800. At Sweet Home in Kentucky, an era is ending as slavery comes under attack from the abolitionists. The worlds of Halle and Paul D. are to be destroyed in a cataclysm of torment and agony. The world of Sethe, however, is to turn from one of love to one of violence and death - the death of Sethe's baby daughter, Beloved, whose name is the single word on the tombstone, who died at her mother's hands, and who will return to claim retribution."

Opinião:

Há uns anos tentei ler este livro, sem sucesso. Acho que ao fim de 50 páginas desisti. Mas achei que, entretanto, evoluí enquanto leitora, li mais coisas, e mesmo em termos da língua inglesa já me habituei mais a ela do que na altura. Lembro-me que o livro me pareceu um pouco confuso e não percebia metade daquilo que me estava a ser contado. O inglês não é difícil, apesar de alguns diálogos se notar um calão afro-americano, mas a narrativa é densa e todo o tom do livro é sombrio. Porém, achei que estava na altura e voltei a este Beloved, de Toni Morrison - o romance vencedor do Prémio Pulitzer em 1988, e ela uma das laureadas com o Prémio Nobel da Literatura, em 1993.

Beloved conta-nos a história de Sethe e Denver, mãe e filha que vivem numa casa, a 124, que parece estar assombrada por uma criança: a primeira filha de Sethe que morreu com dois anos. As primeiras duas frases do livro são marcantes e reveladoras do ambiente na casa: "124 was spiteful. Full of a baby's venom." Estamos no século XIX, algures após a Guerra Civil americana, no fim da era da escravatura. Sethe foi escrava, tal como praticamente todas as personagens negras da história e essas marcas são bem sentidas por cada um, nos momentos em que relembram algumas coisas das suas próprias histórias. Um dos temas do livro penso que é a memória. A memória individual, as histórias brutais de cada um, os horrores e a violência que viram e pela qual passaram, mas também a memória de um momento da história americana que muitos tentam passar por cima. É a história de um povo que foi escravizado, levado da sua terra, tratado como animais, separado das suas famílias, quebrado e violentado. E são estas emoções todas que Toni Morrison consegue passar para o leitor, de forma poética mas com uma linguagem, por vezes, um pouco obscura e densa. Este não é, de todo, um livro fácil. Mas, para mim, foi recompensador.

Para além das memórias da escravatura e de revivermos essas memórias com os protagonistas, percebemos que elas ainda condicionam os comportamentos de cada um e que é difícil não se distanciar delas, mesmo quando é isso precisamente que se quer. Elas condicionam, inclusive, a relação entre todas as personagens. Temos ainda a relação entre mãe e filha, os ciúmes de Denver, ao surgir uma nova personagem na casa, a alienação de Sethe e Denver por parte da própria comunidade negra, o impacto psicológico da escravatura. Este livro é, ainda, um livro com elementos de terror e percebe-se porquê. Tem fantasmas, tem coisas que acontecem numa atmosfera sobrenatural, a casa 124, no início, tem o interior vermelho por causa da assombração. A autora mistura o real com o sobrenatural, as memórias com o momento presente, com os sonhos e temos que ler com atenção, ou caso contrário podemos misturar as coisas. Por vezes há, até, pontos de vista que se sobrepõem, mas considerei Toni Morrison uma mestre na escrita do livro.

Este livro tem muita coisa que se lhe diga e não vou conseguir dizer tudo isso aqui. É um livro marcado pelo sofrimento das personagens e pela presença de um espectro que é Beloved, a filha de Sethe, o fantasma da casa. Toda a narrativa tem uma atmosfera pesada, sobrenatural, estranha. Mas gostei bastante de todo o livro, apesar de ter demorado algum tempo a lê-lo, porque não é um livro que se consuma de uma assentada. Achei que houve momentos em que tinha de parar por ser demasiado intenso. Mas vale completamente a pena, a meu ver, por nos dar a conhecer um livro que é tão rico e nos mostrar uma história que conta a história de muitos milhões. É um livro que marca, está extremamente bem escrito, fez-me sentir incomodada com algumas cenas e envergonhada pelo facto do ser humano conseguir ser tão desumano e cruel. É, ainda, uma história sobre actos de coragem e desespero para lá da compreensão comum. Fiquei, também, com vontade de ler mais da Toni Morrison.

Por curiosidade, este livro foi adaptado para o cinema, em 1998, e conta com Oprah Winfrey como Sethe, e Danny Glover como Paul D. O trailer encontra-se aqui.

5/6 - Muito Bom

(Esta leitura conta para os desafios TBR Pile Reading Challenge e para o Monthly Motif Challenge)

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