Americanah - Opinião
maio 01, 2020O meu amor pela obra da autora Chimamanda Ngozi Adichie não é de hoje. É uma das minhas autoras favoritas e sabe escrever histórias importantes e cheias de significado como ninguém. Nelas, ensina-nos sobre o seu país, a Nigéria, sobre a sua história, cultura e sociedade, mas também o que significa ser africano fora de África. E é sobre isso que este Americanah nos fala, através da história da protagonista Ifemelu.
Ifemelu é uma jovem nigeriana que, quando ingressa no ensino superior, decide ir estudar para os Estados Unidos na busca de uma melhor qualidade de ensino, de vida, num país que não está sob o jugo militar. Ifemelu deixa para trás a sua família e amigos, mas também o seu amor, Obinze. Com a sua chegada aos Estados Unidos, Ifemelu tem de se adaptar a uma nova realidade cultural, social, mas também a um conjunto de códigos diferentes entre as raparigas americanas. E é só quando se muda para num país estrangeiro, que começa a ter noção de questões ligadas à raça por causa do seu tom de pele. Ifemelu chega a afirmar: "Só me tornei negra quando vim para a América".
E são várias as observações curiosas e relevantes que Ifemelu faz. Aqui, ela verifica que há diferenças entre os afro-americanos (descendentes de escravos e nascidos nos Estados Unidos) e os africanos americanos (que vêm de África para os Estados Unidos em busca de uma vida melhor). Nesse sentido, notamos a imensa diversidade cultural, mas também de experiências de vida díspares, demonstrando que a questão da raça é muito mais complexa e abarca muito mais questões identitárias do que podem aparentar à superfície.
Neste novo país, Ifemelu luta, ainda, por se manter fiel às suas raízes nigerianas ao mesmo tempo que se adapta à realidade norte-americana, adoptando alguns maneirismos, expressões e gostos americanos que se revelam mais evidentes quando ela volta à Nigéria. E à medida que ela vai criando amizades e conhecimentos com americanos e outros afro-americanos, Chimamanda vai tecendo críticas não só à sociedade americana que olha para si própria como a maior e melhor nação do mundo, mas que revela uma profunda ignorância quanto aos vários países africanos tomando-os todos por igual, desconhecendo diferentes culturas, histórias nacionais, línguas, costumes e tradições. Nesta obra são exploradas, também, questões ligadas aos relacionamentos amorosos inter-raciais e de como a questão da raça pode não existir no seio do casal, mas está presente à volta deles.
E depois há o cabelo. O cabelo como motivo que une praticamente todas as partes do livro. O cabelo como metáfora da raça, que começa a ser entrançado no início do livro, dá tantas voltas, sofre tantas mudanças, é alisado para encaixar nos padrões de um país ocidental, deixado ao natural como reconhecimento da africanidade de Ifemelu, e entrançado de novo como aceitação da mulher que é, representativo da sua identidade e feminilidade.
Adorei este livro. Amei a forma como Chimamanda conta a história de Ifemelu em todas as suas aventuras, em todas as etapas da sua vida. A relação com Obinze, o amor da sua vida, mas que acaba por ser algo atribulada e complexa, passando por várias fases, pondo à prova a verdadeira força do seu amor. Os dilemas pelos quais passa, as dificuldades de adaptação, a solidão e tristeza, a incompreensão e, no fim, a aceitação de si mesma com tudo o que isso significa. É uma viagem e tanto que adorei fazer e que nos oferece um maior conhecimento de todas estas questões a partir de dentro.
Recomendo!
6/6 - Excelente
(Esta leitura conta para o desafio Mount TBR Reading Challenge)
Editora: D. Quixote
Páginas: 714
Sinopse:
"Ifemelu, bela e ousada, vai estudar para os Estados Unidos. Para trás, deixa o país, a família e Obinze, a quem chama Teto, um nome que testemunha uma intimidade absoluta e irrepetível.
Obinze, introvertido e meigo, planeava juntar-se-lhe, mas a América do pós-11 de setembro fecha-lhe as portas. Sem nada a perder, ele arrisca uma vida como imigrante ilegal em Londres.
Anos mais tarde, na recém-formada democracia nigeriana, Obinze é um homem rico e poderoso. Nos Estados Unidos, Ifemelu também vingou: é autora de um blogue de culto. Mas há algo que nem a América nem o tempo conseguem apagar. E quando decide regressar à Nigéria, Ifemelu terá de reinventar uma linguagem comum com Obinze e encontrar o seu lugar num país muito diferente do que guardou na memória."
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Detalhes
Editora: D. Quixote
Páginas: 714
Sinopse:
"Ifemelu, bela e ousada, vai estudar para os Estados Unidos. Para trás, deixa o país, a família e Obinze, a quem chama Teto, um nome que testemunha uma intimidade absoluta e irrepetível.
Obinze, introvertido e meigo, planeava juntar-se-lhe, mas a América do pós-11 de setembro fecha-lhe as portas. Sem nada a perder, ele arrisca uma vida como imigrante ilegal em Londres.
Anos mais tarde, na recém-formada democracia nigeriana, Obinze é um homem rico e poderoso. Nos Estados Unidos, Ifemelu também vingou: é autora de um blogue de culto. Mas há algo que nem a América nem o tempo conseguem apagar. E quando decide regressar à Nigéria, Ifemelu terá de reinventar uma linguagem comum com Obinze e encontrar o seu lugar num país muito diferente do que guardou na memória."
3 comentários
Gostei muito deste livro. Foi o primeiro livro da Chimamanda Ngozi Adichie que li e fiquei fã!
ResponderEliminarA Chimamanda é maravilhosa a contar histórias. Sou super fã dela! :D
ResponderEliminarLi este livro e Hibiscos Roxos e adorei ambos, efetivamente é marcante na obra o uso dos penteados como metáfora de raça, tal como me impressionou o uso de branqueadores na Nigéria para subir no estatuto social, um contraste entre o comportamento dos africanos em África e na América. Além de que a estória está muito bem estruturada e também o retrato do país me pareceu uma denúncia muito bem construída. Doeu aquele português no romance, espero só que não seja a ideia que ela tem de nós.
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