My Year of Rest and Relaxation - Opinião
maio 11, 2021Podem ouvir esta opinião também no podcast, AQUI.
Esta foi, sem dúvida, uma leitura de impulso. Dei de caras com este título, com a sinopse, pus o e-book no Kobo e comecei a leitura, sem pensar muito no assunto. Há muito tempo que não fazia algo assim e até me soube bem.
Neste livro narrado na primeira pessoa, conhecemos a nossa protagonista: uma jovem mulher que vive em Nova Iorque, bela, financeiramente estável por estar a viver dos rendimentos de uma herança e que, aparentemente, tem uma boa vida a todos os níveis. No entanto, esta mulher, sem nome para o leitor, decide tirar um ano para dormir, com o objectivo de renascer uma nova mulher depois desse ano, deixando a vida e os acontecimentos passados para trás. Mas rapidamente percebemos que essa decisão é motivada por questões mais profundas com as quais ela não sabe ou não quer lidar e, por isso, dormir durante um ano parece-lhe a melhor opção.
Esta mulher recorre, então, àquela que provavelmente é a pior psiquiatra de sempre e que lhe receita todo um cocktail de medicação para ela conseguir dormir. Claro que a protagonista também não é honesta com a psiquiatra, de forma a fazê-la prescrever medicação cada vez mais forte e sedativa, mas a psiquiatra também tem uns parafusos a menos, nunca questionando a veracidade das afirmações da sua paciente, e sem prestar grande atenção ao que ela diz. O cocktail de medicamentos é gigante: Valium, Nembutal, Percocet, Ambien, Xanax, e algumas cujo nome é inventado e que se potenciam umas às outras. Um desses medicamentos é o Infermiterol - um comprimido só faz com que a pessoa apague completamente durante três dias.
Esta é uma premissa interessante que revela aspectos mais profundos. O não saber ou não querer lidar com a perda, com a solidão, com o não saber do seu lugar no mundo, a misantropia e a indiferença em relação a tudo e a todos os que estão à sua volta. Provavelmente esta mulher sofre de depressão, que nunca é diagnosticada nem avaliada, e acha que se dormir o suficiente irá tornar-se uma pessoa melhor, com uma outra perspectiva sobre si própria, a vida e o mundo. E durante este ano em que ela passa a maior parte do tempo a dormir, vamo-nos apercebendo do quão infeliz e desadequada esta mulher se sente, bem como as peripécias pelas quais passa que, de vez em quando, a lembram do mundo exterior que continua a rodar.
Contudo, não consegui ligar-me completamente a esta personagem. Primeiro, enervou-me a psiquiatra que nunca coloca questões, que vive no mundo dela, que acredita na sua paciente sempre que ela vai ao consultório e lhe diz "continuo a não conseguir dormir", apesar de estar a tomar mil e um comprimidos diferentes. Sinceramente, não sei como é que ela não teve uma overdose ou morreu no meio disto tudo. E também não me consegui ligar completamente a esta mulher que resolve não lidar com os seus problemas, os seus traumas, e resolve dormir, acreditando nesta espécie de casulo do qual irá emergir melhor do que antes.
A verdade é que ela é uma pessoa profundamente desligada das pessoas que a rodeiam desde sempre, algo que terá tido origem na sua infância e na ligação que tinha com os pais. É, ainda, desligada das suas próprias emoções e despreza quem as expressa. Não tem paciência para os outros, só se preocupa consigo e com dormir, e acha toda e outra qualquer existência desprezível. No fundo, não é fácil gostar-se dela. Talvez por isso, por esta desconexão com tudo, também a minha ligação com ela foi difícil e não aconteceu. Achei que o livro foi bom para entreter e espairecer a cabeça, lê-se muito bem e tem uma linguagem fácil para quem se quer acostumar a ler em inglês.
4/6 - Bom
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Detalhes
Our narrator should be happy, shouldn't she? She's young, thin, pretty, a recent Columbia graduate, works an easy job at a hip art gallery, lives in an apartment on the Upper East Side of Manhattan paid for, like the rest of her needs, by her inheritance. But there is a dark and vacuous hole in her heart, and it isn't just the loss of her parents, or the way her Wall Street boyfriend treats her, or her sadomasochistic relationship with her best friend, Reva. It's the year 2000 in a city aglitter with wealth and possibility; what could be so terribly wrong?
My Year of Rest and Relaxation is a powerful answer to that question. Through the story of a year spent under the influence of a truly mad combination of drugs designed to heal our heroine from her alienation from this world, Moshfegh shows us how reasonable, even necessary, alienation can be."
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