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A Dowry of Blood conta-nos a história da primeira noiva de Drácula, aqui com o nome Constanta. O livro é narrado na primeira pessoa, pela perspectiva de Constanta, num livro em que o Drácula nunca é nomeado. É apenas o marido, o amante, o homem sedutor. Ficamos a saber o contexto da transformação de Constanta de humana em vampira e de como é a sua vida como noiva do Drácula ao longo dos séculos.
A escrita deste livro é muito bonita. Inclusive, parece que estamos a ler um livro de vampiros escrito no século XVIII ou XIX, e por isso é dotado de uma linguagem cuidada e sensível que transmite o estado emocional e mental da nossa protagonista nesta nova vida enquanto vampira, mas também enquanto presa de um predador. Afinal, a história bem espremida é sobre como é viver uma relação abusiva sob o ponto de vista de quem é abusado.
Ao longo dos tempos, a figura do vampiro sempre convidou a várias leituras, representando várias coisas, como: aqueles que não se conformam com as normas sociais; o medo do outro, do desconhecido; comportamentos sociais desviantes; aquilo que está sexualmente reprimido; medos e ansiedades relativos a doenças, raça, o controlo sob algo ou alguém; o lado obscuro e sombrio do ser humano; a dependência de substâncias; ao mesmo tempo que representa o poder, a sedução e a imortalidade. De acordo com a época, o vampiro pode representar estas ansiedades contemporâneas.
Aqui, especificamente, temos a representação de relações abusivas, e o vampiro representa o papel do abusador que controla, manipula e isola a sua vítima, numa atitude predatória que é típica do vampiro. Por isso, temos uma visão de uma relação deste tipo pela perspectiva de uma das suas vítimas e é por isso que o abusador não tem nome. Quem tem nome são as vítimas desta relação doentia e que lutam para se conseguirem libertar das suas amarras. São essas pessoas que necessitam de serem lembradas e cujos nomes devem ser repetidos para que não se esqueçam.
4/5 - Gostei Muito
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Hamnet é um livro maravilhoso. Explorando a possível história da família de Shakespeare, a autora apresenta-nos a protagonista, Agnes, a esposa deste homem que não tem nome e que se tornará um nome maior da literatura inglesa. É através dos olhos de Agnes que somos apresentados às vivências domésticas e quotidianas desta família, ao espaço em que habitam, e aos restantes membros da família, nomeadamente a Hamnet, um dos filhos de ambos.
Tendo o amor e a família como aspectos centrais do livro, a obra apresenta-nos as maneiras diferentes de se experienciar e lidar com a perda e o luto. É um livro duro e emocionante que apela à nossa empatia em relação a estes temas e vemos estas questões exploradas tendo como ponto de vista principal a visão de Agnes. Vemos, também, como esta perda é vivida e sentida de forma diferente pelas personagens e de que maneira estes momentos trágicos podem influenciar a expressão artística.
Este é um livro que vive do uso da linguagem e das emoções, sem se tornar lamechas ou sentimentalista. A escrita de O'Farrell é detalhada e sensorial, transportando-nos para aquele ambiente e para o sofrimento daquela família. É um livro duro sobre um tema difícil, mas que brilha pela forma como nos é apresentado e nos faz sentir ao longo da leitura.
Recomendadíssimo!
4/5 - Gostei Muito
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