A Vegetariana - Opinião
agosto 15, 2019
Título: A Vegetariana
Autor: Han Kang
Editora: D. Quixote
Páginas: 192
Sinopse:
"Ela era absolutamente normal. Não era bonita, mas também não era feia. Fazia as coisas sem entusiasmo de maior, mas também nunca reclamava. Deixava o marido viver a sua vida sem sobressaltos, como ele sempre gostara. Até ao dia em que teve um sonho terrível e decidiu tornar-se vegetariana. E esse seu ato de renúncia à carne - que, a princípio, ninguém aceitou ou compreendeu - acabou por desencadear reações extremadas da parte da sua família. Tão extremadas que mudaram radicalmente a vida a vários dos seus membros - o marido, o cunhado, a irmã e, claro, ela própria, que acabou internada numa instituição para doentes mentais. A violência do sonho aliada à violência do real só tornou as coisas piores; e então, além de querer ser vegetariana, ela quis ser puramente vegetal e transformar-se numa árvore. Talvez uma árvore sofra menos do que um ser humano."
Opinião:
Como podem (ou não) ter visto pelo post anterior, decidi participar numa maratona literária que durou 24h. A dita correu bastante bem, ainda que não tenha lido tanto como tinha planeado, porque entretanto a vida meteu-se pelo meio e tive de fazer outras coisas. Ainda assim, deu para avançar bastante na minha leitura deste livro que só terminou agora por motivos de... preguiça. Sim. Preguiça. Também tenho direito! Mas vamos lá à opinião sobre este livro.
Este é o romance de estreia da autora sul-coreana Han Kang que lhe valeu vários prémios, entre eles o Man Booker Prize em 2016. A maioria da crítica e das opiniões que fui lendo por essa internet fora eram bastante boas e foi isso que me fez comprar esta obra na Feira do Livro deste ano. No entanto, confesso que a história ficou aquém das minhas expectativas.
O livro está dividido em três partes, cada uma narrada sobre o ponto de vista de uma personagem diferente que, por sua vez, interage directamente com a personagem que está no centro de toda a narrativa: Yeong-hye. Yeong-hye é uma mulher que, depois de um sonho algo grotesco, decide tornar-se vegetariana. Esta mudança não é bem vista pela sua família e é encarada como algo completamente descabido e sem nexo, numa família que é tradicional e conservadora dentro da sociedade sul-coreana. Este é o mote inicial, mas a narrativa aborda questões mais pertinentes e profundas que têm a ver com o papel da mulher numa sociedade que molda as mulheres para serem donas de casa, para cuidarem do marido e dos filhos, para serem exemplos de obediência e humildade numa cultura que dita de que forma se devem comportar, vestir, expressar, em que todos os momentos, todas as palavras e expressões são calculadas, sem azo a grande expressão de individualidade. Por tudo isto, Yeong-hye é vista como alguém psicologicamente perturbada e que, por isso, deve ser controlada e institucionalizada. A prisão da sua mente num corpo sobre o qual a sua vontade não é respeitada acaba por ser espelhada na sua prisão exterior e a narrativa destas cerca de 200 páginas torna-se maior do que aquilo que, de facto, está escrito. As ideias saltam do papel para a nossa realidade e impõem uma reflexão mais complexa sobre as questões do corpo, identidade, liberdade, até sobre saúde mental e como a sociedade está, ou não, preparada para lidar com isso.
Reconheço em absoluto o valor desta narrativa e deste livro, no entanto não consegui criar uma ligação com a história nem com nenhuma das personagens. Talvez fosse com expectativas demasiado altas depois das críticas que li, talvez aquela sociedade sul-coreana me fosse demasiado estranha e não me tenha conseguido prender à prosa da autora, mas de facto o livro não me encheu as medidas. Senti-me, até, um pouco estranha e desconfortável durante a leitura, mas se calhar até é esse um dos propósitos do livro e, se assim for, ficou cumprido! Mesmo o estilo de escrita da autora não me suscitou grande interesse, mas talvez se perca algo na tradução também. Nunca saberei, porque não sei ler nem escrever em sul-coreano.
Assim, apesar de ter gostado do livro pelos temas que aborda e pelas discussões que pode suscitar, não consigo dizer muito mais, não consigo louvá-lo tanto como a maioria das outras opiniões que li. Tenho pena, queria mesmo ter gostado mais deste livro, mas não há volta a dar...
4/6 - Bom
Autor: Han Kang
Editora: D. Quixote
Páginas: 192
Sinopse:
"Ela era absolutamente normal. Não era bonita, mas também não era feia. Fazia as coisas sem entusiasmo de maior, mas também nunca reclamava. Deixava o marido viver a sua vida sem sobressaltos, como ele sempre gostara. Até ao dia em que teve um sonho terrível e decidiu tornar-se vegetariana. E esse seu ato de renúncia à carne - que, a princípio, ninguém aceitou ou compreendeu - acabou por desencadear reações extremadas da parte da sua família. Tão extremadas que mudaram radicalmente a vida a vários dos seus membros - o marido, o cunhado, a irmã e, claro, ela própria, que acabou internada numa instituição para doentes mentais. A violência do sonho aliada à violência do real só tornou as coisas piores; e então, além de querer ser vegetariana, ela quis ser puramente vegetal e transformar-se numa árvore. Talvez uma árvore sofra menos do que um ser humano."
Opinião:
Como podem (ou não) ter visto pelo post anterior, decidi participar numa maratona literária que durou 24h. A dita correu bastante bem, ainda que não tenha lido tanto como tinha planeado, porque entretanto a vida meteu-se pelo meio e tive de fazer outras coisas. Ainda assim, deu para avançar bastante na minha leitura deste livro que só terminou agora por motivos de... preguiça. Sim. Preguiça. Também tenho direito! Mas vamos lá à opinião sobre este livro.
Este é o romance de estreia da autora sul-coreana Han Kang que lhe valeu vários prémios, entre eles o Man Booker Prize em 2016. A maioria da crítica e das opiniões que fui lendo por essa internet fora eram bastante boas e foi isso que me fez comprar esta obra na Feira do Livro deste ano. No entanto, confesso que a história ficou aquém das minhas expectativas.
O livro está dividido em três partes, cada uma narrada sobre o ponto de vista de uma personagem diferente que, por sua vez, interage directamente com a personagem que está no centro de toda a narrativa: Yeong-hye. Yeong-hye é uma mulher que, depois de um sonho algo grotesco, decide tornar-se vegetariana. Esta mudança não é bem vista pela sua família e é encarada como algo completamente descabido e sem nexo, numa família que é tradicional e conservadora dentro da sociedade sul-coreana. Este é o mote inicial, mas a narrativa aborda questões mais pertinentes e profundas que têm a ver com o papel da mulher numa sociedade que molda as mulheres para serem donas de casa, para cuidarem do marido e dos filhos, para serem exemplos de obediência e humildade numa cultura que dita de que forma se devem comportar, vestir, expressar, em que todos os momentos, todas as palavras e expressões são calculadas, sem azo a grande expressão de individualidade. Por tudo isto, Yeong-hye é vista como alguém psicologicamente perturbada e que, por isso, deve ser controlada e institucionalizada. A prisão da sua mente num corpo sobre o qual a sua vontade não é respeitada acaba por ser espelhada na sua prisão exterior e a narrativa destas cerca de 200 páginas torna-se maior do que aquilo que, de facto, está escrito. As ideias saltam do papel para a nossa realidade e impõem uma reflexão mais complexa sobre as questões do corpo, identidade, liberdade, até sobre saúde mental e como a sociedade está, ou não, preparada para lidar com isso.
Reconheço em absoluto o valor desta narrativa e deste livro, no entanto não consegui criar uma ligação com a história nem com nenhuma das personagens. Talvez fosse com expectativas demasiado altas depois das críticas que li, talvez aquela sociedade sul-coreana me fosse demasiado estranha e não me tenha conseguido prender à prosa da autora, mas de facto o livro não me encheu as medidas. Senti-me, até, um pouco estranha e desconfortável durante a leitura, mas se calhar até é esse um dos propósitos do livro e, se assim for, ficou cumprido! Mesmo o estilo de escrita da autora não me suscitou grande interesse, mas talvez se perca algo na tradução também. Nunca saberei, porque não sei ler nem escrever em sul-coreano.
Assim, apesar de ter gostado do livro pelos temas que aborda e pelas discussões que pode suscitar, não consigo dizer muito mais, não consigo louvá-lo tanto como a maioria das outras opiniões que li. Tenho pena, queria mesmo ter gostado mais deste livro, mas não há volta a dar...
4/6 - Bom
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