O Nome da Rosa - Opinião

dezembro 21, 2020


Este é um dos meus livros favoritos, mas como foi um daqueles livros que li antes de ter um blog nunca houve opinião sobre ele aqui. Até hoje.

Fiz esta releitura a partir da proposta da Ana, do podcast Anatomia do Livro, que, a propósito da celebração dos 40 anos da publicação de O Nome da Rosa de Umberto Eco, organizou uma leitura conjunta deste livro, no Instagram. Por isso, decidi juntar-me a ela e mais a um grupo de pessoas fantástico que também leu este livro. E em boa hora o fiz! Esta releitura trouxe-me um olhar diferente, mais completo e abrangente de todas as vertentes deste livro. Com uma maior bagagem e conhecimento sobre a Idade Média, consegui identificar nomes, referências, teorias filosóficas e outras que, anteriormente, me passaram ao lado. Percebo que este livro assuste algumas pessoas porque, à primeira vista, pode parecer demasiado complexo ou intelectual para quem não esteja dentro destes temas. Mas convido-vos a experimentar lê-lo na mesma, porque podem lê-lo de várias formas diferentes: como um livro de mistério, com um crime por resolver; como um romance histórico que nos fala da vida num mosteiro durante o século XIV; ou como um livro sobre livros e sobre o poder da palavra.

Este livro começa, então, com a chegada do frade franciscano Guilherme de Baskerville e do noviço Adso de Melk a uma abadia beneditina em Itália, em 1327. Durante a estadia de ambos há várias mortes que acontecem em circunstâncias estranhas e ambos têm a função de investigar estes acontecimentos e de encontrar o culpado. A história é narrada por Adso, quando já é mais velho e recorda estes dias da sua juventude. E em relação ao enredo não adianto mais nada para não spoilar ninguém.

A partir deste centro existem outras ramificações. Ficamos a saber mais sobre a vida num mosteiro durante o período medieval, mas também temos acesso a várias discussões de teor filosófico e teológico sobre várias questões essenciais daquele tempo. No entanto, Eco faz isto sem parecer que está a despejar informação, de forma a que as passagens mais complexas destas discussões sejam seguidas de partes mais leves, alternando a narrativa nesta forma. O livro está, ainda, dividido em 7 dias, que correspondem aos dias em que lá estão, por sua vez subdivididos nas várias horas canónicas.

Este livro tem tanto, mas tanto sumo! Algumas coisas dei por elas sozinha, por já ter adquirido bastante conhecimento sobre o período medieval, e outras coisas dei por elas pelas conversas que tive com as outras pessoas do grupo desta leitura conjunta. Se se quiserem aventurar, convido-vos a ler algumas coisas sobre estes temas, para irem mais familiarizados sobre eles, uma vez que estão presentes na obra de Eco: Neoplatonismo, o Grande Cisma do Ocidente, a Escolástica e o pensamento Aristotélico, o Nominalismo, as várias ordens religiosas e os movimentos heréticos medievais, a importância dos manuscritos e das bibliotecas para a cultura medieval. Temos ainda a biblioteca, uma parte fulcral daquele mosteiro, centro de todo o conhecimento e de todos os mistérios, e, associada a ela, referências a labirintos e a espelhos que se tornam fulcrais.

Se estiverem interessados em ler este livro, aconselho a leitura prévia de dois contos de Jorge Luís Borges, presentes na sua obra Ficções: "A Biblioteca de Babel" e "A Morte e a Bússola". Claro que não precisam de ler estes contos para desfrutarem da leitura de O Nome da Rosa, mas é um acrescento que pode ser interessante.

Como podem ver, coisas a dizer sobre este livro não faltam e muitas mais poderia trazer para aqui. Mas deixo à vossa consideração, se esta pequena opinião vos deixou interessados. Adorei esta releitura e adorei apanhar estes detalhes e referências que antes me passaram ao lado. Este é um livro riquíssimo, muito bem escrito, que mistura géneros e temáticas diversas, com duas personagens inesquecíveis, diferentes e que se complementam tão bem: Guilherme e Adso. Adorei e só posso recomendá-lo a quem gosta de um bom mistério, de ficção histórica e de discussões filosóficas.


6/6 - Excelente


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Detalhes

Editora: Difel
Páginas: 466
Sinopse:
"Um estudioso descobre casualmente a tradução francesa de um manuscrito do século XIV: o autor é um monge beneditino alemão, Adso de Melk, que narra, já em idade avançada, uma perturbante aventura da sua adolescência, vivida ao lado de um franciscano inglês, Guilherme de Baskerville.

Estamos em 1327. Numa abadia beneditina reúnem-se os teólogos de João XXII e os do Imperador. O objecto da discussão é a pregação dos Franciscanos, que chamam a igreja à pobreza evangélica e, implicitamente, à renúncia ao poder temporal.

Guilherme de Baskerville, tendo chegado com Adso pouco antes das duas delegações, encontra-se subitamente envolvido numa verdadeira história policial. Um monge morreu misteriosamente, mas este é apenas o primeiro dos sete cadáveres que irão transtornar a comunidade durante sete dias. Guilherme recebe o encargo de investigar esses prováveis crimes. O encontro entre os teólogos fracassa, mas não a investigação do nosso Sherlock Holmes da Idade Média, atento decifrador de sinais, que através de uma série de descobertas extraordinárias, conseguira no final encontrar o culpado nos labirintos da Biblioteca."

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