Para Onde Vão os Guarda Chuvas - Opinião

agosto 24, 2021


Podem também ouvir a minha opinião no podcast, AQUI.

Esta é a minha estreia com a obra de Afonso Cruz. Nunca tendo lido nada deste autor, não tinha noção de nada em relação ao que esperar deste livro - seja da história em si, seja da forma de escrever de Afonso Cruz. No entanto, sempre vi opiniões muito boas em relação a este livro em específico, por isso as minhas expectativas estavam um pouco altas. E posso já dizer que gostei do livro, mas não me encheu completamente as medidas. Mas vamos por partes.

Este livro tem uma história muito simples e é composto por várias histórias que formam um todo. Assim, seguimos um núcleo de personagens cujas vidas estão relacionadas: Fazal Elahi, o seu primo Badini, a sua irmã Aminah, a sua esposa Bibi, o seu filho Salim, um rapaz chamado Isa, o general Krupin e todo um leque de personagens secundárias mas que vão tendo a sua importância em momentos específicos da história. Esta desenrola-se num local fictício reminescente do Médio Oriente, com várias personagens de origem hindu e muçulmana, maioritariamente, mas que não tem nome, porque esta história poderia passar-se em qualquer lugar. Temos um tecido social muito rico que acabam por dar profundidade a esta narrativa e um fundo onde estas personagens se encontram e onde nos são contadas as suas histórias.

Este é um livro muito rico, com várias temáticas que são exploradas através de uma história simples, que diz respeito às relações que temos com os outros, sejam de amor, amizade, ou familiares. Este é um livro sobre memórias, sobre histórias, sobre religião e fé, sobre o Bem e o Mal e como se apresentam na vida do dia-a-dia, é sobre empatia, sobre como a vida pode ser um jogo de xadrez. É sobre vida e sobre morte, sobre intolerância e violência, sobre perda e sofrimento, e sobre tantas outras coisas que é impossível nomeá-las todas aqui.

Para Onde Vão os Guarda Chuvas é um livro dotado de grande sensibilidade e prova do dom da palavra de Afonso Cruz. É uma obra carregado de grandes momentos de sabedoria nas peripécias e conversas mais corriqueiras das personagens. Porque a sabedoria é isso mesmo, revela-se no quotidiano e não tanto em acontecimentos de grande fôlego. O fim do livro deixou-me com algumas comichões, mas percebo-o completamente e até acho que é apropriado, ainda que nos deixe muitas questões na mente.

Gostei do livro? Gostei sim. Adorei-o como tanta gente? Nem por isso. Achei o livro um pouco longo demais, algumas partes são um pouco repetitivas, porque recuperam constantemente o que aconteceu no passado, mas ainda assim é uma obra com uma história e um leque de personagens únicos, e de grande fôlego por parte de Afonso Cruz. Este foi o primeiro livro que li do autor, mas ficou a vontade, sem dúvida, de continuar a explorar a sua obra. 

Vale a pena, ainda, dizer, que li este livro no âmbito da iniciativa 12 Meses 12 Portugueses, promovida pelo João Oliveira da conta do Instagram Na Cama Com Os Livros.


5/6 - Muito Bom

(Esta leitura conta para o desafio Mount TBR Reading Challenge 2021)


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Detalhes

Editora: Alfaguara
Páginas: 620
Sinopse:
"O pano de fundo deste romance é um Oriente efabulado, baseado no que pensamos que foi o seu passado e acreditamos ser o seu presente, com tudo o que esse Oriente tem de mágico, de diferente e de perverso. Conta a história de um homem que ambiciona ser invisível, de uma criança que gostaria de voar como um avião, de uma mulher que quer casar com um homem de olhos azuis, de um poeta profundamente mudo, de um general russo que é uma espécie de galo de luta, de uma mulher cujos cabelos fogem de uma gaiola, de um indiano apaixonado e de um rapaz que tem o universo inteiro dentro da boca.
Um magnífico romance que abre com uma história ilustrada para crianças que já não acreditam no Pai Natal e se desdobra numa sublime tapeçaria de vidas, tecida com os fios e as cores das coisas que encontramos, perdemos e esperamos reencontrar."

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