Pet Sematary - Opinião

setembro 03, 2021


Podem também ouvir a minha opinião no podcast, AQUI.

Este é o terceiro livro que leio de Stephen King, juntando-se a Carrie e Misery. Este é, no entanto, o único livro de terror que eu, de facto, li do autor, no sentido mais literal do termo. Este é um livro do qual os pesadelos são feitos. Tem aqui cenas arrepiantes e perturbadoras, que provavelmente poderão ferir aqueles mais sensíveis. A certa altura, mais para o fim do livro, pensei mesmo que o King desafiou todos os limites daquilo que era expectável - mas em bom.

O livro fala-nos de uma família que se muda para o Maine. Temos Louis Creed, um médico que aceitou um cargo numa espécie de centro médico universitário e que vem com a sua família, a mulher e os dois filhos pequenos, bem como com o gato da família, Winston Churchill. Na chegada à casa nova, conhecem o seu vizinho simpático e prestável, Judd Crandall, já de alguma idade e que viveu ali desde sempre, assumindo aqui o papel quase de um avô afável que ajuda aquela família a ambientar-se ao local. Por detrás da casa da família Creed, dentro de um bosque, encontra-se um pequeno cemitério de animais, onde as crianças costumam enterrar os seus animais quando estes falecem, algo que é relativamente comum, uma vez que aquelas casas se encontram junto a uma estrada bastante frequentada por camionistas que passam ali a grandes velocidades. É Judd que conta a história deste cemitério, que está ali há várias gerações, e que mostra que não há que ter medo, especialmente à filha mais velha de Louis, Ellie, que já tem idade para se questionar sobre estas temáticas. E sobre o enredo mais não posso dizer, porque corro o risco de entrar em spoilers.

Para mim, este livro foi uma espécie de reflexão sobre a morte e o luto. Como várias pessoas pensam, sentem e vivem de maneira diferente estes eventos. Como não há uma maneira certa, nem um tempo certo para estas questões que são tão individuais e que só dizem respeito à pessoa em si, independentemente daquilo que a sociedade possa pensar. Também há, aqui, personagens que vêm a morte como um tabu, algo de que não se fala e que tem de ser escondido dos outros. A morte como um trauma, mas também a morte como uma invevitabilidade da vida, algo que é considerado natural. Há ainda aqueles que se sentem mais familiarizados com a ideia da morte, por já terem vivido muitos anos, por terem passado por guerras, doenças, crises e o desaparecimento de familiares e amigos. 

E depois há o luto e as diferentes formas de o fazer, dependendo de cada um. Este livro fala-nos de como o luto pode aproximar ou afastar pessoas, de como pode unir ainda mais as famílias ou aumentar as falhas que existem, de como pode ser difícil as pessoas ajudarem-se umas às outras se sentem o sofrimento de maneira e de intensidade diferentes. E de como este luto pode levar pessoas a cometer actos impensáveis que desafiam todos os princípios morais pelos quais uma pessoa se pode reger, demonstrando, ainda, que o preço a pagar por esses actos é demasiado grande.

Falando agora da parte do terror, há aqui vários elementos. Há um local assombrado, há acontecimentos sobrenaturais, há o recorrer a elementos do folclore nativo norte-americano para invocar crenças, locais e criaturas que suscitam medo e terror, não só no leitor, mas também nas próprias personagens, e ainda acontecimentos que desafiam a nossa noção do certo e do errado. Aqui recorre-se às crenças da tribo dos MicMacs, que ocuparam a região do que é hoje o leste do Canadá e partes do que são hoje os estados do Maine e de Massachussets, mais especificamente a uma criatura: o Wendigo. O Wendigo era uma criatura humanóide, canibal e que habitava as florestas, sendo aqui evocado em algumas ocasiões.

Posto isto tudo, que já me estou a alongar bastante, o que dizer? Adorei. Adorei a escrita de King, que vicia e que nos faz ficar agarrados ao que estamos a ler, e que constrói um crescendo ao longo de livro que culmina nas últimas 100 páginas que devorei de uma assentada. Gostei muito da construção das personagens, com destaque para Louis Creed, que é a personagem principal, e de como ele evolui ao longo do livro. Adorei o ambiente, a história em si, os elementos de terror, e não consigo nomear algo de menos bom neste livro. Um verdadeiro livro de terror que só posso aconselhar aos amantes deste género.


6/6 - Excelente

(Esta leitura conta para o desafio Mount TBR Reading Challenge 2021)



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Detalhes

Editora: Hodder
Páginas: 466
Sinopse:
"The house looks right, feels right to Dr Louis Creed. Rambling, old and comfortable. A place where the family can settle; the children grow and play and explore. The rolling hills and meadows of Maine seem a world away from the fume-choked dangers of the city.
It's only those big trucks on the road outside which growl out unnerving threats.
Behind the house there's a carefully cleared path up into the woods to a place where generations of local children walked in a procession with the solemn innocence of the young, taking with them their dear departed pets for burial.
A sad place maybe, but safe. Surely a safe place. Not a place to seep into your dreams, to wake you, sweating with fear and foreboding..."

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