The Buried Giant - Opinião

maio 08, 2020


Este é o primeiro livro que leio de Kazuo Ishiguro, autor nipo-britânico, Nobel da Literatura em 2017. Lembro-me que comecei o The Remains of the Day, mas creio que foi má altura para o fazer e sei que nem sequer o acabei. Por isso, decidi dar uma outra oportunidade ao autor com este The Buried Giant, cuja narrativa se passa na Inglaterra medieval, pós ocupação romana, aspecto que me interessou logo quando o comprei. Finda esta leitura, tenho sentimentos mistos sobre o livro.

Logo desde o início que a escrita de Ishiguro me encantou. O autor descreve um ambiente com uma aura misteriosa, sobrenatural, quase um realismo mágico, reminescente das narrativas míticas celtas, naturais das Ilhas Britânicas, onde se passa a história. Neste sentido, o autor vai buscar inspiração a elementos do folclore e das lendas britânicas não só para tecer o enredo principal, mas também para reflectir sobre a importância da memória na construção da identidade colectiva e individual. Assim, seguimos um casal, Axl e Beatrice, que pretende ir visitar o filho que não vêem há muito tempo e, por isso, partem da sua aldeia para o encontrar numa das aldeias vizinhas. Mas nesse caminho encontram personagens peculiares e situações inesperadas que os vão ajudando a fazer sentido de quem são e do que acontece no reino. Isto porque há uma estranha bruma, um nevoeiro, que parece apagar as memórias de todos - desde as mais antigas às mais recentes.

Desta forma, surge a grande questão do livro: saberemos, verdadeiramente, quem somos se não nos lembrarmos da nossa história?

Ao longo do livro vão sendo oferecidas várias hipóteses sobre o que será esse nevoeiro, mas o curioso é verificar que o autor vai inserindo elementos familiares ao leitor sobre a Inglaterra medieval, como a presença de um velho cavaleiro arturiano, ou de um confronto que se parece muito com um confronto semelhante em Beowulf. A inclusão de elementos como estes acaba por servir, não só, o enredo principal, mas também serve como uma viagem pelo próprio passado mítico e lendário da Grã-Bretanha. E até aqui, adorei tudo! Adorei Axl e Beatrice, um casal muito cúmplice, que gostam muito um do outro e que revelam um retrato tão bonito de um amor que pode durar a vida toda. Adorei a escrita de Ishiguro e a Inglaterra que ia sendo descrita, com a possibilidade de ogres, brumas, dragões e outras criaturas estranhas.

Só que a determinada altura, ele muda o foco da narrativa e passa a focar-se noutras três personagens. Eu percebo porquê, dado o desfecho final, mas as últimas 150 páginas foram difíceis, porque só queria saber de Axl e Beatrice, com os quais o leitor acaba por criar laços afectivos. Acho que há uma quebra do ritmo, nessa altura, e uma alteração do foco que, para mim, veio alterar o ânimo da leitura. Dava por mim a pensar "não quero saber! Só quero saber do Axl e da Beatrice!" Claro que as outras personagens acrescentam mais pormenores a coisas que até são relevantes para a narrativa, mas esta mudança mexeu comigo e não consegui gostar da segunda metade deste livro como gostei da primeira. Ainda assim, considerando o livro, gostei dele, mas sinto que a parte final poderia ter sido conseguida de outra forma.

4/6 - Bom

(Esta leitura conta para o desafio de leitura Mount TBR Reading Challenge 2020)

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Detalhes

Editora: Faber & Faber
Páginas: 362
Sinopse:
"The Romans have long since departed, and Britain is steadily declining into ruin.

The Buried Giant begins as a couple, Axl and Beatrice, set off across a troubled land of mist and rain in the hope of finding a son they have not seen for years. They expect to face many hazards - some strange and other-worldly - but they cannot yet foresee how their journey will reveal to them dark and forgotten corners of their love for one another."

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