Homegoing - Opinião
abril 01, 2021Também podem ouvir esta opinião no podcast, aqui.
Homegoing é o livro de estreia de Yaa Gyasi, uma autora do Gana, que também está publicado em português com o título Rumo a Casa, pela Editorial Presença. Foi um livro que me suscitou curiosidade o ano passado e sobre o qual li várias opiniões bastante positivas. Por isso, achei que já era altura de o ler, e aqui estamos.
Homegoing mostra-nos como algumas vivências que não são, necessariamente, nossas podem perdurar no tempo e tornarem-se heranças colectivas e individuais. Começamos o livro com a história de duas irmãs no Gana, Effia e Esi, que não sabem da existência uma da outra e que têm destinos bem diferentes. Uma delas casa com um traficante de escravos e vive uma vida feliz no Gana, enquanto a outra é vendida como escrava e levada para as plantações nos Estados Unidos. O livro atravessa praticamente dois séculos, desde meados do século XVIII até aos dias de hoje, de forma a mostrar o quanto as consequências destes eventos influenciaram as gerações seguintes, dos seus descendentes: uns no Gana e outros nos Estados Unidos.
A forma como o livro está organizado faz com que seja uma espécie de colectânea das histórias das várias pessoas que descendem destas duas irmãs. Temos, no total, 14 personagens, com um capítulo dedicado a cada uma, onde podemos perceber de que forma as vivências da geração anterior afecta os da geração seguinte. Porque as memórias, os traumas, as experiências acabam por ser transmitidos desta forma e afectam as vidas de cada um, mesmo que não tenham passado directamente por estas experiências.
Gostei muito deste livro. Confesso que, ao início, custou a habituar-me à estrutura do livro e a perceber de que linha descendia a personagem sobre a qual estava a ler, mas ao fim de uns capítulos começamos a habituarmo-nos à lógica. Talvez porque somos confrontados com pequenos vislumbres na vida de cada personagem, e não sabemos a história individual de cada uma, não consegui estabelecer grandes laços emocionais com nenhuma delas. No entanto, a ligação emocional cria-se devido às temáticas aqui exploradas e que afectam todas elas: questões de identidade, de memória, sobre a colonização, a escravatura, o racismo, a família e o desenraizamento.
A escrita da autora não tem grandes floreados, é muito directa e crua, mas também devido aos tópicos que aborda, acho que é o ideal para conseguir passar ao leitor a vida de sofrimento, solidão, não entendimento e amargura. Vemos o processo de colonização do Gana pelos ingleses, e que essa colonização não acontece só quando se ocupa um território. Acontece também pela eliminação dos elementos culturais do povo conquistado, através da língua, dos costumes, da religião, e isso está bem patente em especial nos últimos capítulos do livro.
Este é um livro muito marcante pelo peso da crueldade, do sofrimento e do racismo carregado ao longo dos séculos. É um livro que deve ser lido por todos e do qual gostei muito.
5/6 - Muito Bom
(Esta leitura conta para o desafio Mount TBR Reading Challenge 2021)
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Editora: Penguin
Sinopse:
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