O Filho de Mil Homens - Opinião

junho 29, 2021


Podem ouvir a minha opinião no podcast, AQUI.

Já andava para ler algo de Valter Hugo Mãe há bastante tempo. Desta nova geração de escritores portugueses, era um dos que mais me suscitava curiosidade, até porque foi vencedor do Prémio Saramago em 2007 com o seu romance O Remorso de Baltazar Serapião. E como Mãe era o autor de Junho nas iniciativas Herdeiros de Saramago e 12 Meses 12 Portugueses, promovidos pelo Álvaro e Ludgero, e pelo João (respectivamente), achei que seria boa altura juntar-me ao grupo que ia ler obras deste autor. Decidi-me estrear através deste O Filho de Mil Homens, que via sempre tão bem recomendado para alguém se iniciar na obra de Mãe, e lá fui eu embalada na prosa do autor.

A verdade é que não sei bem por onde começar. O livro, à primeira vista, parece simples. O mote é lançado logo na primeira página, ao ficarmos a saber que um homem, Crisóstomo, tem 40 anos e sente falta de ter um filho, na sua vida. Sente-se e vê-se como metade, por lhe faltar um filho e, por isso, decide fazer alguma coisa em relação a isso. Mas à medida que vamos lendo e que nos deixamos levar pelas histórias das várias personagens que nos vão sendo apresentadas, primeiro separadamente, para depois percebermos que todas elas estão interligadas e se cruzam a determinada altura, vamos percebendo também a mensagem do livro que começa nestas vidas singulares mas que abrange um panorama mais geral e que toca a todos - às personagens e a nós mesmos.

Este livro é sobre auto-aceitação, pertença, solidão, sobre amor e sobre a falta dele, sobre exclusão e esperança em encontrarmos a família que escolhemos e construímos fora dos laços de sangue. E são estas pessoas que fazem com que a nossa identidade se construa e solidifique para além da família de sangue. São as nossas mães, pais, irmãos, filhos. Nas palavras de Mãe, num excerto que resume tão bem este livro:

"Todos nascemos filhos de mil pais e de mil mães, e a solidão é a incapacidade de ver qualquer pessoa como nos pertencendo, para que nos pertença de verdade e se gere um cuidado mútuo. Como se os nossos mil pais e a nossas mil mães coincidissem em parte, como se fossemos por aí irmãos, irmãos uns dos outros. Somos o resultado de tanta gente, de tanta história, tão grandes sonhos que vão passando de pessoa a pessoa, que nunca estaremos sós."

Fazemos parte de todos e todos fazem parte de nós. Somos estilhaçados e pertencemos a toda a gente. Penso que esta é a grande mensagem deste livro. Gostei muito deste livro e penso que só não gostei mais porque o li num momento complicado em que não tinha grande motivação nem capacidade de concentração para leituras. Ainda assim, não desisti deste livro e ainda bem que não o fiz, porque me fez ter vontade de continuar a explorar a obra de Valter Hugo Mãe.

5/6 - Muito Bom


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Detalhes

Editora: Porto Editora
Páginas: 278
Sinopse:
"Raramente a Literatura universal produziu um texto tão sensível e humano quanto este. O filho de mil homens é uma obra da ourivesaria literária de Valter Hugo Mãe. Uma experiência de amor pela humanidade que explica como, afinal, o sonho muda a vida.

Crisóstomo, um pescador solitário, ao chegar aos quarenta anos de idade decide fazer o seu próprio destino. Inventa uma família, como se o amor fosse sobretudo a vontade de amar.

Sempre com a magnífica capacidade poética de Valter Hugo Mãe, esta história é um elogio a todos quantos resistem para além do óbvio."

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