Desistir de um livro, ou não desistir? Eis a questão!

maio 19, 2020


No fim-de-semana resolvi desistir do livro que estava a ler: Serotonina, de Michel Houellebecq. Não porque o livro era mau, mas simplesmente porque não era o momento certo para mim, para poder desfrutar desta leitura. Não me incomoda desistir de livros, mas sei que este é uma questão que, volta e meia, vem à baila no mundo dos leitores. Desistir de um livro, ou não?

Há um claro medo de abandono e/ou rejeição por parte de todos os livros que habitam as nossas estantes. E se para alguns esse medo é perfeitamente razoável, uma vez que há vários de nós que não têm problemas em abandonar a leitura de um livro, há outros que fazem o compromisso de ler um livro até ao fim, mesmo que não estejam a gostar, ou que se apercebam que não é a melhor altura para ler aquele determinado livro. Eu percebo ambos os lados, mas de que lado estão vocês?

Eu sou apologista de colocarmos um livro de lado se, por algum motivo, não nos conseguirmos ligar com a história. Existem demasiados livros dos quais podemos gostar, para gastar tempo a lermos livros de que não gostamos - tempo que, aliás, não temos para ler todos os livros que queremos. Além deste aspecto de, simplesmente, não gostarmos de uma determinada narrativa, pode dar-se o caso de não ser o momento adequado para lermos aquele livro. Já me aconteceu começar a ler um livro, não estar a gostar, pôr de lado, e anos mais tarde voltar a ler e adorá-lo.

Esta questão também é pertinente, afinal por vezes escolhemos um livro que, a meio da leitura, percebemos que não se adequa ao momento em que estamos a viver, por algum motivo. Eu gosto de planear as minhas leituras e de ter uma ideia dos livros que quero ler a seguir, mas a verdade é que leio conforme o meu estado de espírito e humor. Por isso, consigo reconhecer se determinada leitura não me está a satisfazer simplesmente porque não estou a gostar da história, ou se é porque estou a ler esse livro na altura errada da minha vida. Acho que tudo tem o seu tempo: as relações humanas, as oportunidades da vida e os livros também. Há momentos em que estamos mais abertos a determinadas leituras e não a outras e há que respeitar o nosso tempo e a nossa disposição também. Acho que quando nos forçamos a ler um livro nestas circunstâncias, a leitura deixa de ser prazerosa e passa a ser uma obrigação. Comigo, costumo estabelecer um limite de 100 páginas: se até lá eu continuar a não sentir nada pelo livro e pela história, ponho-o de lado para mais tarde.

É o que me estava a acontecer com o Serotonina. Li cerca de 140 páginas, mas comecei a perceber que a leitura se estava a arrastar porque eu não estava com disposição mental para uma história como a que Houellebecq nos apresenta. E não considero que o livro seja mau, atenção! Acho, apenas, que não o estou a ler na altura certa que me permita apreciá-lo como deve ser. Por isso, vou guardá-lo para outro momento em que esteja mais disponível para ele.

Há uns anos, o Goodreads fez um infográfico sobre o motivo que nos leva a nós, leitores, desistir de um livro, e que partilho abaixo.


É curioso ver alguns dados expostos pelo Goodreads. A maior parte das pessoas que desiste de livros, fá-lo entre as 50 e as 100 páginas, que é o que eu faço também. Mas a maior parte dos inquiridos termina um livro independentemente de estarem a gostar ou não. Além disso, no infográfico também conseguimos perceber o que motiva os leitores a cada viragem de página, sendo que a maioria afirma que têm como regra acabar um livro. Deveria ser essa a grande motivação dos leitores? Acabar um livro? Ou desfrutar de uma história, do enredo, das personagens, do ambiente criado pelo leitor, de forma a nos deixarmos levar e enriquecer com a história que nos é contada? Esta é a opinião de 25% das pessoas, que dizem que querem saber o que acontece no livro que estão a ler. Para mim, a partir do momento em que isto deixa de acontecer, então esse livro perdeu-nos e já só estamos a ler porque sim.

Qual é a vossa opinião sobre este tema? Também são apologistas de desistir de um livro a meio, ou lêem sempre tudo até ao fim? E o que vos faz desistir de um livro? Não acho que, por causa disto, uns sejam mais leitores do que outros, ou que uns sejam melhores que outros. Simplesmente temos pontos de vista diferentes sobre desistir ou não de um livro. E eu percebo e respeito os dois lados. Mas lembro-me de uma professora de literatura, no meu último ano de licenciatura, dizer uma coisa que me ficou sempre na cabeça e é por isso que deixei de sentir remorsos quando desisto de um livro: "Há tantos livros bons, porquê gastar tempo com livros que não gostam, ou que não vos estão a satisfazer?"

E é por isso que, com todo o amor que tenho por livros e pelas suas histórias, que não tenho problemas em desistir deles. Porque há mais à nossa espera e que merecem todo o nosso tempo, atenção dedicação.

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4 comentários

  1. Sou apologista de não forçar quando não estamos mesmo a gostar da leitura. Não tenho o hábito de abandonar livros porque geralmente só invisto naqueles que acho que me vão agradar (vejo sempre primeiro várias opiniões de outros leitores). Quando estou mais cansada e sinto que não é altura certa para aquela leitura começo outro livro mais leve para ir alternando ou deixo provisoriamente em standby. Só deixo de lado um livro antes da 50-100 páginas quando a escrita ou a tradução não me agrada de todo fora isso procuro sempre ler mais um pouco porque existem enredos que inicialmente são difíceis de entrar. Boas leituras

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    1. Concordo contigo. Também é direito nosso, enquanto leitores, de não terminar um livro, ou de colocar de parte, por enquanto.
      Boas leituras!

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  2. Eu termino quase sempre os livros que começo, mesmo que demore muito tempo. Quero sempre dar uma oportunidade de ser surpreendida e não quero ficar com a dúvida de que haja uma preciosidade ali escondida que eu possa perder. Ainda assim, lembro-me de já ter desistido de pelo menos um livro, tal como tu, ao fim das 100 páginas. Vi que não ia dar. Se considerar a escrita má ou as personagens sem sal e unidimensionais, não tenho qualquer problema em deixá-lo para trás. Em suma, tento levar sempre até ao fim, mas não me condeno se o tiver de abandonar a meio. A leitura tem de nos fazer felizes e não ser uma obrigação.

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    1. Concordo contigo, a leitura tem de ser prazerosa, se não, não vale a pena :)

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