The Binding - Opinião

outubro 30, 2020



Quando comecei a ler este livro tinha uma ideia do que ia encontrar - mais ao menos que tipo de ambiente, elementos, história - tendo em conta a sinopse do livro. Só que cedo percebi que devia esquecer essas minhas expectativas, porque o livro ia ser outra coisa. E isto lembrou-me do quão importante, por vezes, pode ser irmos às cegas para um livro. Sem saber do que se trata, sem termos lido nada sobre o livro, sem expectativas ou ideias sobre a história pode ser e onde ela nos pode levar. E acho que se quiserem ler este livro, também é assim que devem ir, sem qualquer tipo de ideias pré-concebidas.

Aquilo que vos posso dizer, é que o livro parte da premissa de que há um processo para nos livrarmos de memórias indesejadas, seja de coisas que fizemos ou que nos fizeram, através de um vínculo que é formado através de um livro e mediado por um binder, que traduzido à letra é um encadernador. Por isso, os nossos segredos e memórias mais traumáticas ficam registadas em livro, apagando-as da nossa mente. Posto isto, achei que ia ler um livro de fantasia, sobre este processo tão interessante que pode ter tantos significados: a nossa ligação aos livros, os livros como artefactos da memória individual e colectiva, bibliotecas, públicas e privadas, grandes ou pequenas, como repositórios daquilo que somos, da forma como lemos as histórias e elas fazem, no fundo, parte de nós. E este livro continua a ter todos estes significados, mas não da forma como eu pensei. 

Este é um livro cuja narrativa é descrita quase em tom de lamento, como se uma nuvem negra atravessasse toda a narrativa, cada vez mais carregada e ameaçadora à medida que a história vai avançando e conforme vamos conhecendo melhor as personagens e as suas histórias individuais. É um livro emocionante que nos deixa com o coração apertado à medida que avançamos e que vamos percebendo onde vai dar. Adorei as personagens principais: Emmet, um rapaz de uma aldeia e que trabalha com a sua família numa quinta, em Inglaterra algures no século XIX, e Lucian, um rapaz de uma família conceituada da alta sociedade inglesa. Os caminhos destes dois jovens acabam por se unir de forma irrevogável, para sempre mudando a vida um do outro. Em alguns aspectos fez-me lembrar um dos meus filmes favoritos da vida, o The Eternal Sunshine of the Spotless Mind, que joga um pouco com a mesma temática, mas de forma diferente, uma vez que se passa no século XXI e tem componentes de ficção científica.

Penso que este é um livro duro, não se lê de forma leve, mas não é complexo na sua linguagem nem nas suas ideias. É um livro cujo enredo se vai construindo e só no fim é que temos uma plena noção de tudo e percebemos o peso de toda aquela jornada - que é das personagens, mas também é nossa. Gostei muito deste livro. Mesmo muito! Porque aquelas personagens me tocaram, porque me emocionei com as suas histórias, porque as personagens são humanas - têm falhas, cometem erros, mas também amam e têm oportunidades de se redimirem. Esta é uma história muito bonita, mas é algo sombria e transporta-nos imediatamente para outro tempo e outro lugar, ainda que as questões abordadas sejam inerentes a toda a existência humana. 

Um dos meus livros favoritos do ano, sem dúvida!

6/6 - Excelente

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Detalhes

Editora: Borough Press
Páginas: 438
Sinopse:
"Emmet Farmer is a binder's apprentice. His job is to hand-craft beautiful books and, within each, to capture something unique and extraordinary: a memory. If you have something you want to forget, or a secret to hide, he can bind it - and you will never have to remember the pain it caused. In a vault under his mentor's workshop, row upon row of books - and secrets - are meticulously stored and recorded. Then one day Emmett makes an astonishing discovery: one of the volumes has his name on it."

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