Parti para a leitura deste livro depois de ter visto opiniões tão positivas da Célia e da Ana. Depois de uma ligeira ressaca literária em que nenhum livro que começava a ler me suscitava interesse, decidi virar-me para um livro que alia dois géneros de conforto meu: os thrillers e a ficção histórica. Assim, 1793 é um thriller histórico com laivos de noir, em que os protagonistas são pessoas com defeitos, com falhas, e o crime que é o foco principal desta narrativa é marcado por uma violência perturbadora. No epílogo que o autor faz a este livro, mostra que fez uma pesquisa histórica exaustiva sobre o fim do século XVIII na Suécia, em que podemos perceber que algumas das personagens mencionadas foram pessoas reais, e estes aspectos conferem ao livro um maior atmosfera de realidade, uma vez que durante a leitura senti que estava completamente imersa naquela época e naquela sociedade.

Como disse no início, este livro veio "curar" uma ressaca literária e foi o livro certo para o fazer. Seguimos a narrativa a partir dos olhos de duas personagens principais; Mickel Cardell, um ex-soldado da Guerra Russo-Sueca, que teve lugar entre 1788 e 1790, na qual perdeu um braço, e Cecil Winge, um advogado que trabalha para a polícia. Ambos se conhecem a propósito de um corpo mutilado que Cardell encontra no rio e que desperta também o interesse de Winge, sendo que a partir daqui ambos começam a trabalhar juntos para a resolução desse mistério. 

Esta história enquadra muito bem a presença deste crime e a investigação feita por Cardell e Winge no seio da sociedade sueca deste período, marcada ainda pelo conflito da guerra com a Rússia, mas também pelo medo que os ideais da Revolução Francesa se infiltrem na sociedade e deponham a monarquia instalada. O retrato feito da sociedade, das pessoas, das instituições e da forma como elas funcionavam, como as pessoas viviam é exímio. É tão bem feito que conseguimos imaginar todos os detalhes que nos são apresentados para formar imagens mentais que ficam gravadas. Além disso, gostei muito de Cardell e Winge, homens que são tão diferentes, mas cujas personalidades e formas de fazer as coisas acabam por se complementar e unir para chegarem até à resolução final do mistério sobre o cadáver mutilado que foi encontrado. Neste aspecto, achei que a forma como a investigação criminal foi feita e os detalhes que vão sendo descobertos sobre o crime foram sendo revelados na medida certa e nas alturas certas, fazendo com que o leitor se mantenha interessado e agarrado ao livro para saber o que irá acontecer a seguir.

Este livro não é para os estômagos mais sensíveis. Os contornos do crime são violentos e mostram o que mais há de sórdido e desrespeitoso pela vida humana, há descrições bastante detalhadas e vívidas de alguns pormenores, não só dos que dizem respeito ao crime, como também da vivência do dia a dia das pessoas naquele período e naquele país, especialmente dos que vivem em contextos mais desfavorecidos e daqueles que se vêem nas malhas das instituições onde acabam por ser condenados a trabalho escravo, a condições degradantes e cujo bem-estar é completamente negligenciado. Já a caracterização das personagens está muito bem feita, uma vez que têm profundidade, são complexas, têm passados complicados e, de certa forma, é mais fácil o leitor estabelecer uma relação com elas de maior empatia, uma vez que enfrentam os mesmos dilemas, os mesmos problemas do que muitos de nós. Gostei mesmo muito de Cardell e de Winge, que espero encontrar no futuro.

Gostei bastante deste livro e irei, certamente, comprar o seguinte para me reencontrar com algumas personagens deste livro e ver em que é que se vão meter. Se gostam de thrillers, de crimes e mistérios por resolver de contornos mais sombrios e violentos, se não tiverem o estômago mais sensível, então este é um excelente livro para vocês. Estou desejosa de ler o próximo!

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Editora: Suma de Letras

Páginas: 348

Sinopse: