O Pecado de Porto Negro - Opinião

fevereiro 23, 2021


Comecei a ler este livro por causa da iniciativa #LerNorbertoMorais, no Instagram, propiciado pela querida Ana (@anaotmia_do_livro). Norberto Morais tornou-se um dos autores favoritos dela e, por isso, de forma a dar a conhecer as obras dele decidiu promover a leitura, durante o mês de Fevereiro, de uma (ou todas) as suas obras. Ficava à escolha de cada um como iria fazer. No meu caso, decidi-me pela leitura de O Pecado de Porto Negro, livro que foi finalista do Prémio Leya em 2013.

Neste livro mergulhamos, então, em Porto Negro, capital da Ilha de São Cristóvão. Ainda que seja um local fictício, é incrível como a linguagem de Morais nos transporta para Porto Negro: para as suas tardes de calor, as noites de festa e de paixões momentâneas, os amores escondidos, a pacatez da vida corriqueira das pessoas, daquilo que é feito em segredo e à luz do dia. O ponto forte deste livro é, sem dúvida alguma, o uso da língua portuguesa. Norberto Morais tem uma escrita envolvente que nos permite transportar não só para aquele lugar, mas também para a vida interior e exterior daquelas personagens, para aquele ambiente tropical e para todas as aventuras e desventuras que ocorrem neste livro.

Em Porto Negro temos, essencialmente, duas personagens principais: Santiago Cardamomo e Ducélia Trajero. Santiago é um jovem Don Juan, pela qual todas as raparigas e mulheres se apaixonam, que deixa deslumbrada toda e cada mulher com quem dorme, sem compromisso, que vive a sua vida no presente e vai fazendo das suas ao sabor do vento. Santiago é livre, faz o que lhe apetece sem nunca se comprometer, é um bon-vivant, um sedutor, um amante das mulheres e da boa vida. Já Ducélia é o oposto de tudo o que Santiago conhece. Ducélia é filha única tendo sido criada e protegida pelo seu pai, após a morte prematura da mãe. Ducélia é inocente e ingénua, reservada, discreta, profundamente temente a Deus e devota ao seu pai. Mas quis o destino que estes dois se cruzassem e a partir daí as suas vidas são profundamente mudadas. Ambos se descobrem mutuamente e se descobrem a si próprios.

E em termos de enredo a história é simples: uma história de amor, de intrigas, morte e vingança pautada por uma escrita riquíssima que vai colorindo todos os espaços povoados por Santiago e Ducélia, mas também pelas outras personagens secundárias que, em momentos, se assumem tão importantes. O domínio da língua portuguesa por parte de Norberto Morais é fascinante e há partes de sufoco, de humor, de espanto, de sofrimento que nos enreda e nos leva para dentro da história que nos conta. Senti-lhe, inclusive, qualquer coisa de Eça de Queiroz nesse sentido. Mas confesso que o enredo propriamente dito, soube-me a pouco. Alguns momentos chegam a ser previsíveis, uma vez que o enredo narrativo não é o mais original nem complexo. É uma história que já relemos outras vezes e que ganha vida, aqui, de uma forma estonteante porque Norberto escreve bem. Gostava, ainda assim, de ter lido uma história com outras dimensões e implicações, mais complexa, para que eu tivesse adorado este livro. Faltou este ponto.

Ainda assim, o veredicto é bastante positivo porque o autor nos transporta e envolve numa narrativa de amor e tragédia através do uso magistral da palavra e da língua portuguesa. Gostei muito e tenho curiosidade para ler mais da sua obra.

5/6 - Muito Bom

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Detalhes

Editora: Leya
Páginas: 432
Sinopse:
"Em Porto Negro, capital da ilha de São Cristóvão, toda a gente conhece Santiago Cardamomo, o bom malandro que trabalha na estiva, tem meio mundo de amigos e adora mulheres, de preferência feias, raramente passando uma noite sozinho. O seu sucesso junto do sexo oposto enche, aliás, de inveja aqueles a quem a sorte nunca bateu à porta, sobretudo o enfezado Rolindo Face, que há muito alimenta esperanças no amor de Ducélia Trajero – a filha que o patrão açougueiro guarda como um tesouro. Mas eis que, no dia em que ensaiava pedir a sua mão, assiste sem querer a um pecado impossível de perdoar que acabará por alterar a vida de um sem-número de porto-negrinos, entre os quais a da própria mãe; a de um foragido da justiça que vive um amor escondido para se esquecer do passado; a de Cuménia Salles, a dona do Chalé l’Amour, a mais afamada casa de meninas da cidade; ou a de Chalila Boé, um mulato adamado que, nas desertas horas da madrugada, se perde pelo porto à procura do amor.

O Pecado De Porto Negro, obra finalista do Prémio LeYa, é um mosaico de histórias que se vão encadeando para construir um romance admirável sobre o carácter circular do destino e a capacidade que o passado tem de nos vir bater à porta quando menos esperamos."

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