The Book of Longings - Opinião
janeiro 29, 2021Este é o segundo livro que leio desta autora e decidi apostar nele porque gostei muito de A Invenção das Asas. Estava com bastantes expectativas para este livro por causa da escrita de Kidd e por ter como personagem principal uma mulher no contexto de uma narrativa bíblica. Não sou religiosa, mas tive uma educação católica e adorava tirar um curso de história das religiões, porque me interessam as narrativas que constroem um mito. Por isso parti para este livro, pela curiosidade em saber como a autora iria construir uma narrativa em que Jesus, supostamente, terá tido uma esposa.
Assim, a autora cria a personagem Ana, uma mulher que questiona e se rebela contra os padrões impostos pela religião e sociedade hebraica em relação às mulheres. Ana é impetuosa, inteligente, curiosa e rebelde para os padrões sociais da altura. Cresce no seio de uma família bastante respeitada, cujo pai é o escriba principal e conselheiro de Herodes Antipas, governador da Galileia em nome do imperador de Roma, mas que se recusa a aceitar a personalidade e as ambições de Ana: ler e escrever sobre as mulheres do Antigo Testamento que são relegadas para as margens. Ana vê na sua mãe a sua maior opositora e na sua tia Yaltha a sua maior adjuvante. No entanto, Ana está em idade de casar e acaba prometida a um homem que não conhece, muito mais velho do que ela, e cujo casamento cimentaria uma aliança entre ambas as famílias. E é nesta altura que Ana conhece um jovem homem, Jesus, cuja forma de pensar e de viver atrai Ana. Esta narrativa passa-se durante os anos em que não se sabe nada da vida de Jesus, na casa dos 20 anos, e por isso a autora teve uma grande liberdade para criar a sua história.
A verdade é que estava à espera de algo mais forte, mais intenso e marcante deste livro. Ana pareceu-me mais uma mulher do século XX e que foi inserida no século I. Penso que Kidd podia ter criado uma personagem feminina rebelde mais verosímil, dado o contexto histórico da época. A história de Ana é cheia de altos e baixos, de momentos difíceis e de superação, de dor, de sabedoria e de um amor complexo e profundo entre ela e Jesus, seu marido. No entanto, pareceu-me faltar algo mais. Foi uma história que não me aqueceu nem arrefeceu. É uma narrativa bem construída, com personagens fortes, mas o livro não me maravilhou. Achei Ana demasiado feminista do século XX, quando isto não devia acontecer. Achei repetitiva a ideia de "longing", ou seja, de que ela anseia por algo mais do que aquilo que tem (à terceira ou quarta menção já revirava os olhos.... "sim, já percebemos a ideia, Kidd"), e achei algumas coisas demasiado superficiais, como se o livro fosse somente uma sucessão de acontecimentos em ordem cronológica.
Em geral, o livro foi bom, mas nada de especial, não me cativou por aí além. Gostei de Ana, da sua coragem e natureza questionadora, de tentar fazer com que a sua voz fosse ouvida através da escrita, algo que estava vedado às mulheres da altura, mas pareceu-me uma mulher do século XX demasiadas vezes. A escolha da autora por este tema foi audaz, toda a gente sabe que quando se mexe com Jesus e o Novo Testamento é preciso cuidado para não fazer algo rocambulesco, ou totalmente inadequado. Sue Monk Kidd, nesse sentido, esteve bem, foi cuidadosa na sua pesquisa histórica sobre o contexto cultural, histórico e social da época e nesse sentido é um bom livro de ficção histórica. Mas de resto, soube-me a pouco.
4/6 - Bom
(Esta leitura conta para o desafio Mount TBR Reading Challenge 2021)
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Detalhes
Lido no Kobo
Sinopse:
"Raised in a wealthy family in Sepphoris with ties to the ruler of Galilee, Ana is rebellious and ambitious, a relentless seeker with a brilliant, curious mind and a daring spirit. She yearns for a pursuit worthy of her life, but finds no outlet for her considerable talents. Defying the expectations placed on women, she engages in furtive scholarly pursuits and writes secret narratives about neglected and silenced women. When she meets the eighteen-year-old Jesus, each is drawn to and enriched by the other’s spiritual and philosophical ideas. He becomes a floodgate for her intellect, but also the awakener of her heart.
Their marriage unfolds with love and conflict, humor and pathos in Nazareth, where Ana makes a home with Jesus, his brothers, James and Simon, and their mother, Mary. Here, Ana’s pent-up longings intensify amid the turbulent resistance to the Roman occupation of Israel, partially led by her charismatic adopted brother, Judas. She is sustained by her indomitable aunt Yaltha, who is searching for her long-lost daughter, as well as by other women, including her friend Tabitha, who is sold into slavery after she was raped, and Phasaelis, the shrewd wife of Herod Antipas. Ana’s impetuous streak occasionally invites danger. When one such foray forces her to flee Nazareth for her safety shortly before Jesus’s public ministry begins, she makes her way with Yaltha to Alexandria, where she eventually finds refuge and purpose in unexpected surroundings.
Grounded in meticulous historical research and written with a reverential approach to Jesus’s life that focuses on his humanity, The Book of Longings is an inspiring account of one woman’s bold struggle to realize the passion and potential inside her, while living in a time, place, and culture devised to silence her."
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