Oathbringer - Opinião

julho 10, 2020


Em estágio para o lançamento do quarto volume da saga Stormlight Archive em Novembro deste ano, aproveitei esta pandemia e o fim do doutoramento para pôr mãos no Oathbringer, terceiro volume desta saga escrita por Brandon Sanderson. Voltar a Roshar e a personagens que conheço tão bem e que já quase fazem parte de mim, como Kaladin, Shallan, Dalinar e Wit, foi um verdadeiro deleite.

Este livro começa, então, logo após os acontecimentos de Words of Radiance e acho que não vos posso adiantar muito mais em termos de enredo, porque qualquer coisa que eu diga pode ser spoiler para quem não leu nem este livro nem o anterior. Continuamos a seguir o enredo pela mão de praticamente as mesmas personagens principais, se bem que há algumas surpresas e novas personagens com pontos de vista que não tinham antes. Cada livro explora o passado de uma personagem em específico e neste livro temos flashbacks de Dalinar, sendo que anteriormente tivemos os de Kaladin e Shallan. Estes momentos em que olhamos para os seus passados conferem maior dimensão psicológica e emocional às personagens e um maior entendimento das suas motivações, dos seus tormentos, medos e dúvidas. Cada livro se foca, ainda, numa Ordem específica dos Knights Radiants e neste livro, uma vez que o grande destaque vai para Dalinar, focamo-nos nos Bondsmiths, o que nos ajuda também a perceber cada Surgebinder e do que são capazes. 

Além da questão das personagens que, para mim, são um dos pontos mais importantes e fulcrais dos livros, a seguir temos não só o enredo principal que se tem vindo a desenrolar desde o primeiro livro, como também mais informação sobre o mundo de Roshar, a sua história, a sua cosmologia. Ficamos, ainda, a saber mais sobre eventos importantes da história de Roshar que são importantes para o momento presente; ficamos a saber mais sobre Odium, os Heralds, os Unmade e os Voidbringers. Há alguns plot-twists, há momentos surpreendentes e incríveis, há revelações daquelas que uma pessoa tem de ler três ou quatro vezes para ter a certeza de que percebeu bem, e há momentos bastante divertidos proporcionados, maioritariamente, pelos soldados da Bridge Four, por Shallan e as suas incursões enquanto Veil, e pelo enigmático, irónico e inteligente Wit.

Se não fossem as páginas que antecedem uma batalha final, em que a coisa engonha um bocado, principalmente num momento em Shadesmar, eu tinha adorado. Achei que houve algumas partes desnecessárias mais para o fim do livro, que tornou a leitura um pouco mais lenta - talvez porque estava a antecipar a tal batalha e só queria saber disso. No entanto, percebo porque Sanderson as incluiu, uma vez que nestas partes, aparentemente mais paradas e lentas, há coisas de teor mais existencialista e filosófico, mas igualmente importante, que são discutidas. 

Acho, ainda, que Kaladin é um dos melhores exemplos literários de alguém que sofre de Stress Pós-Traumático e de Depressão e há situações em que só me apetece entrar na história para lhe dar um abraço e dizer que vai ficar tudo bem. De facto, este é um traço transversal a praticamente todas as personagens potencialmente heróicas nestes livros: todos foram quebrados de alguma forma, e isso foi tão marcante que modela a forma como reagem a determinadas situações e pessoas. Estas personagens lutam, principalmente, conta as suas próprias mentes. E aqui temos representações de depressão, ideação suicida, adição, ansiedade, stress pós-traumático, transtornos de personalidade, entre outras coisa. E no fundo, penso que uma das mensagens que Sanderson passa é de que são estas pessoas quebradas, que conhecem o sofrimento de forma íntima, que passaram por traumas - são elas que têm o maior potencial de salvar o mundo. Neste aspecto, acho que estes livros têm momentos muito importantes em que se explora a questão da saúde mental, e que este tema não é só um acessório. É aquilo que move as personagens, que as torna tão complexas e reais, é algo que as torna tão únicas e é a chave do acesso de cada um à magia. Se quiserem ler um pouco mais sobre isso, têm este artigo muito interessante (com spoilers) que explora a questão da saúde mental nesta saga de Sanderson em maior pormenor. Como alguém que passa e passou por algumas destas coisas, acho importante falar disto e aplaudir Sanderson por construir estas personagens tão bem. Kaladin, Shallan, Dalinar e Teft são das personagens mais marcantes, neste âmbito.

Gostei tanto deste livro, de ter voltado a este lugar e a estas personagens! Apesar das mais de 1200 páginas, que só de olhar para elas já cansa, esta narrativa e este mundo estão tão bem construídos e são tão coesos em todas as suas ramificações, que é impossível não nos deixarmos levar e ficar completamente absorvidos com esta história. Juro que no penúltimo dia antes de acabar o livro, tive  de deixar o livro a cerca de 100 páginas do fim para me ir deitar porque já estava com muito sono - e não é que fui sonhar com o livro, a antecipar a tal batalha?? Sanderson faz-nos destas coisas.

Acho que não consigo escrever mais nada sobre o livro porque, primeiro, não quero spoilar ninguém, e porque acho que só lendo a sua obra é que se consegue ter a dimensão da arte literária e imaginativa presente, em específico, nestes livros. Se são fãs de fantasia, daquelas que são densas, complexas, com sistemas de magia intricados, com personagens complexas, mas reais, e com toda uma cosmogonia própria, então este livro é para vocês. Leiam Sanderson!

5/6 - Muito Bom

(Esta leitura conta para o desafio Mount TBR Reading Challenge)

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Detalhes

Editora: Tor
Páginas: 1243
Sinopse:
"A new storm has come.
Ash and red lightning sweep the land, awakening our ancient enemies. The Unmade - shadows of the Enemy's soul - stir, while the eyes of men open. This war is not, and never was, what they thought it would be.
We may soon hold Surges again, for Radiance has returned to some, and shines toward others. The Captain, broken by loss, seeks reconciliation. The Spy, broken by cruelty, seeks completion. The Stonewalker, broken by oaths, seeks  truth. The Traitor, broken by ambition, seeks freedom. 
And finally the King. Broken by war, he seeks the past. That which was abandoned. That which he must not know.
For those secrets will crush him as they did the knights who came before."

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