8 Livros para diversificarem as vossas leituras

junho 16, 2020

Há uns meses, escrevi sobre a relativa falta de variedade nas minhas leituras, no que diz respeito não só a autores, mas também a histórias que se passem fora do contexto anglo saxónico. A verdade é que a maior parte das vezes escolho autores ingleses/americanos que falam de experiências que se passam no Reino Unido/Estados Unidos. Isto, em si só, não tem nada de mal, mas penso que é essencial enquanto leitores darmos oportunidade a histórias e autores que fogem um pouco à nossa zona de conforto. Para percebermos e podermos sentir empatia por experiências diferentes das nossas, para podermos conhecer essas experiências, para que quando surgem movimentos como o #BlackLivesMatter e para quando se fale de racismo e xenofobia percebamos que a nossa visão tende a ser eurocêntrica, porque é essa a nossa realidade. No entanto, a nossa realidade não é a única e é nosso dever entender o lugar do outro. Os livros são e serão sempre uma boa forma de o fazer e um bom ponto de partida. Seja através de livros de ensaios, biografias, ficção histórica, ou qualquer outro género, hipóteses é o que não faltam para podermos enveredar por algumas dessas histórias. 

Por isso, o que eu venho partilhar convosco é uma lista de livros favoritos cujas histórias se focam em personagens ou países que não são anglo saxónicos. Porque há mais vida para além daquilo que nos rodeia e nos faz sentir confortáveis, e espero que se sintam motivados e curiosos para lerem além da nossa zona de conforto. Acho que está mais do que na altura de todos nós fazermos esse esforço de alargar horizontes e integrarmos narrativas que, tendencialmente, são mais esquecidas.



The Ministry of Utmost Happiness - Arundhati Roy (ÍNDIA)

Este livro é de uma autora indiana e fala da manta de retalhos que é a India, especialmente porque a autora tece esta narrativa através de personagens que vivem em partes diferentes do país, desde Nova Delhi até à zona de Caxemira, dividida entre a Índia, o Paquistão e a China. Aqui podemos verificar a diversidade cultural, social, económica e linguística da Índia, numa leitura que é bastante rica e complexa, tal como o país que retrata. Não esqueçamos que Roy ganhou o prémio Man Booker com a sua renomada obra O Deus das Pequenas Coisas.

Persépolis - Marjane Satrapi (IRÃO)

Esta é uma autobiografia contada em forma de BD, uma vez que a autora é ilustradora. Aqui, Satrapi conta-nos a sua história pessoal ao mesmo tempo que nos conta mais sobre a história de Teerão, uma vez que ambas acabam por estar entrelaçadas. Eu adorei este livro e fiquei com muita vontade de saber mais sobre a história da antiga Pérsia.

Meio Sol Amarelo - Chimamanda Ngozi Adichie (NIGÉRIA)

Sou fã confessa desta autora e gostei muito deste livro por nos contar a história sobre a criação do estado independente do Biafra nos anos 60, um momento seminal na história do continente africano e, em particular, da história da Nigéria. Adorei o modo como as personagens são criadas e as suas histórias pessoais se desenrolam tendo como pano de fundo este período conturbado da história nigeriana.

Americanah - Chimamanda Ngozi Adichie (NIGÉRIA/EUA)

Ainda continuando com a mesma autora, este foi um livro que li já este ano e que adorei. Fala-nos sobre uma rapariga nigeriana que vai estudar para os Estados Unidos e que, pela primeira vez, se vê confrontada com a sua africanidade e como isso afecta as suas relações e as suas experiências naquele país. Adorei Ifemelu e posso dizer que nunca mais vou olhar para o cabelo de uma mulher negra da mesma maneira. Este livro não está na foto porque o emprestei à minha mãe.

Memórias de uma Gueixa - Arthur Golden (JAPÃO)

Este livro viverá sempre no meu coração. A escrita deste autor é belíssima e rica em detalhes sobre a cultura japonesa, à medida que nos conta a história de Sayuri, desde a sua infância até à idade adulta, onde aprende a arte de ser uma gueixa. É lindíssimo e só posso recomendar a todos os que gostam de uma boa história, com personagens fortes e bem desenvolvidas e o Japão do início do século XX como cenário.

Beloved - Toni Morrison (EUA)

Sim, esta obra passa-se nos Estados Unidos, mas conta-nos a história de dois antigos escravos durante o período que se seguiu ao fim da guerra civil e da escravatura. É uma história densa, que nos põe desconfortáveis pelas memórias e histórias das personagens principais, e é uma mistura de ficção histórica com elementos de horror. Adorei a escrita de Toni Morrison e a forma como ela escreve, nesta obra que lhe valeu o Prémio Pulitzer. 

Flor do Deserto - Waris Dirie (SOMÁLIA/UK)

Li este livro ainda na adolescência e foi a primeira vez que soube o que era a mutilação genital feminina. Waris Dirie é uma modelo somali que foi para o Reino Unido aos 18 anos, quando foi descoberta por um fotógrafo, e esta autobiografia conta-nos sobre a sua vida na Somália, a sua ida para a Europa, a sua ascensão enquanto modelo e explora a questão da mutilação genital feminina.

Vendidas - de Zana Muhsen (IÉMEN)

Este foi um dos livros que mais teve impacto em mim. Li-o quando tinha 13 ou 14 anos e chocou-me o facto de haver mulheres que eram vendidas pelos seus pais para casarem com outros homens, como se fossem mercadoria. Este livro é também uma autobiografia sobre uma mulher que viveu no Reino Unido até aos seus 15 anos, até que é vendida pelo pai iemenita, juntamente com a sua irmã mais nova, em casamento com um homem no Iémen, local que ela não conhece e nunca visitou. O livro fala-nos da vida de Zana, dos choques culturais, emocionais, da sua vida enquanto prisioneira e da sua luta para se libertar e pela guarda dos seus filhos. É um relato envolvente e muito forte sobre uma realidade que, infelizmente, ainda existe.

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