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    Sándor Márai não me é desconhecido, afinal, já é o terceiro livro que leio do autor. E para quem já leu outros livros deste autor húngaro, já sabe com o que pode contar em termos do seu estilo de escrita. Livros curtos, mas densos, que retratam inquietações humanas de forma original e profunda, quase como se fossem estudos filosóficos sobre uma temática. Escrito em 1946, já no pós-guerra, este romance ainda revela as marcas dessa época, uma vez que a narrativa se passa durante o período da guerra e antes dela, para descrever determinados contextos e estados de alma que influenciam cada personagem.

    Inicialmente, temos um encontro entre a personagem principal, Z., e o narrador da primeira parte do livro. Conhecidos de longa data, mas que não se falam há muitos anos, encontram-se por acaso num hotel isolado nas montanhas por conta do mau tempo na altura do natal. Aí, Z. revela que padeceu de uma doença misteriosa que acabou por afastá-lo dos palcos e o atirou praticamente para o anonimato. Após este encontro, e passados alguns meses, o narrador do livro receber um manuscrito no qual Z. relata aqueles meses depois de adoecer, em Florença.

    Não sabemos muito sobre a doença de Z., mas isso também não é importante. Neste manuscrito temos reflexões sobre a vida e a morte, a doença, a solidão, a sanidade e a loucura, a paixão, as mentiras, o amor, quase como se a doença fosse uma manifestação de uma crise existencial vivida pelo protagonista e que o forçou a parar para avaliar a sua vida. Por isso, apesar de curto, este é um livro denso com um grande carácter existencialista e algo filosófico, através das discussões que Z. tem com o seu médico e com as pessoas que tratam dele quando está internado.

    Não é um livro fácil de ler, exige atenção, concentração e disponibilidade mental para o entender no seu todo. Márai consegue criar um tipo de atmosfera que nos coloca imediatamente num determinado local e estado de espírito para interiorizarmos, em nós, as inquietações das personagens, fazendo com que nos questionemos com elas. A certa altura, o livro é só sobre os pensamentos e os estados mentais de Z., tornando esta narrativa profundamente intimista e até solitária, por vezes. 

    Gostei deste livro pelas questões que coloca e que nos põem a pensar também. Eu acho que Sándor Márai tem uma escrita algo enigmática, que esconde significados para além da palavra escrita e eu gosto bastante disso, por nos revelar verdades que não são assim tão óbvias. No entanto, não consegui criar ligação com a personagem principal e isso é muito importante para mim, uma vez que é através das personagens que eu começo a criar uma ligação ao próprio livro. 

    Não é que a personagem esteja mal construída ou seja inverosímil, eu é que não me identifiquei com aquele estado de Z., apesar de ter gostado das reflexões que o seu estado convida. Lembrei-me muito do Johnny Got His Gun, do Dalton Trumbo, que não consegui ler por ser muito claustrofóbico e, de certa forma, senti um pouco isso neste livro também, uma vez que passamos muito tempo na mente de Z., numa cama de hospital durante vários meses, quase sem se conseguir mexer, num quarto que só tem uma janela que dá para um muro. O ambiente é muito fechado, tanto a nível exterior como interior, e isso mexeu comigo durante a leitura, de vez em quando até parecia que me sentia cansada e precisava de espairecer.

    Mas os bens livros também fazem isso connosco: mexem com as nossas emoções e provocam reacções fortes que podem chegar a ser físicas. Se gostam da escrita de Márai, aconselho este livro. Se nunca leram nada dele, comecem antes pelo As Velas Ardem Até Ao Fim, que é belíssimo.


    4/6 - Bom

    (Esta leitura conta para o desafio Mount TBR Reading Challenge 2020)

    Comprar: Bertrand (link de afiliado)

    ________________________

    Detalhes

    Editora: Dom Quixote
    Páginas: 216
    Sinopse:
    "No auge da sua carreira como pianista, Z. apanha um comboio com destino a Florença, cidade onde, a convite do governo italiano, irá dar um concerto. Pouco antes de cruzar a fronteira, é acometido por uma indisposição, e, depois da sua atuação, acaba por ser internado num hospital florentino, sendo-lhe diagnosticada uma rara doença viral.

    Aí, enquanto paira entre a vida e a morte, Z. levará a cabo um diálogo intenso e crítico com o seu médico, uma indagação sem concessões sobre o precário equilíbrio entre o poder curativo da ciência e o espírito de luta do paciente. Uma noite, presa do delírio causado pela morfina, Z. escuta uma voz feminina, que lhe sussurra: «Não quero que morra.» E estas palavras terão nele um efeito medicinal, levando-o a repensar aspectos fundamentais da sua vida. Será aquela «força feminina», aquela energia que age mascarada, a lutar por ele, a trazê-lo de volta à vida.

    Escrito em 1946, no seguimento de "As Velas Ardem até ao Fim", este romance é mais um claro exemplo da especial sensibilidade e talento do grande escritor húngaro para abordar as principais preocupações do ser humano, aquelas que transcendem as fronteiras históricas e geográficas. A paixão, o sofrimento, a doença, o êxtase provocado pela arte e o mistério da morte são alguns dos temas intemporais que Sándor Márai aborda de forma magistral ao longo destas páginas - a última obra que publicou no seu país, antes de partir para o exílio."
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    Título: A Herança de Eszter
    Autor: Sándor Márai
    Editora: Biblioteca Sábado
    Páginas: 180
    Sinopse:
    "Instalada na casa que herdou do seu pai e com a única companhia de uma parente idosa, Eszter é uma mulher solteira que vive com a placidez de quem conseguiu adaptar-se ao que a vida lhe ofereceu. Até que um dia recebe um telegrama de Lajos, um velho amigo da família, anunciando a sua iminente visita. Um canalha encantador e sem escrúpulos, dotado de um poder de sedução irresistível, Lajos não só traiu o amor de Eszter, mas também destruiu a sua família e roubou tudo o que possuíam, excepto a casa em que vivem e o jardim com que subsistem. Eszter prepara-se então para o receber, comovida por um turbilhão de sentimentos contraditórios."

    Opinião:

    Escrito na primeira pessoa, assistimos a todos os eventos narrados pela mão de Eszter. Assistimos ao dia da chegada de Lajos, às memórias que ela tem dele e aos sentimentos contraditórios que Eszter não consegue evitar sentir.
    Somos levados a vários momentos anteriores da vida de Eszter e a este dia que todos tão ansiosamente esperam. Depois de discursos treinados, de assuntos e promessas que seriam cobradas, nada acontece como era suposto. Todos parecem seduzidos por Lajos, mesmo depois de todas as trafulhices que ele lhes fizera, de todas as mentiras que lhes contara.
    Eszter, também ela, se deixa seduzir. Mas, no fundo, ela amara-o e por mais que soubesse quais as intenções verdadeiras de Lajos, mesmo sabendo das mentiras, Eszter não pôde evitar deixar-se levar.

    Este livro é de leitura fácil, leve e rápida. Tem uma escrita simples mas que revela a complexidade dos sentimentos, dos acontecimentos, das consequências das acções de cada um. Confesso que a personagem de Lajos me deu uma certa raiva por ser tão aproveitador e tão mentiroso. Mas, como alguém diz a certa altura no livro, Lajos é um poeta e não tem noção daquilo que faz. Se bem que, para mim, isso não é desculpa para nada...
    Eszter, porém, tenta fazer-se de forte, tenta resistir e confrontá-lo com todas as suas mentiras e com todas as desilusões que lhe causou mas, por fim, cede a ele. Não sei dizer se Eszter é fraca. Penso que é apenas uma mulher que não deixou de amar um homem mesmo passados vinte anos. Tal como a sua vida, este amor foi guardado, adormecido e depois despertado.
    Gostei deste livro, mas não achei nada de espectacular.

    4/6 - Bom
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    Acabei de ler este livro e correspondeu perfeitamente às minhas expectativas.
    É um livro com uma escrita bonita, descritiva de tempos e pessoas que marcaram a história das personagens, Konrád e Henrik, agora já velhos que esperaram uma vida inteira para se encontrarem. Para se encontrarem porque era a única coisa que lhes restava fazer, depois de um acontecimento fatal, à sua maneira, se ter interposto entre as suas vidas e mudado o rumo das mesmas para sempre.

    Escrito de uma maneira suave, este livro transporta-nos para o fim do século XIX e início do XX, para um casarão habitado por um general, Henrik, que ocupa somente uma parte ínfima da casa, outrora cheia de vida. Numa primeira parte, tomamos conhecimento da vida deste general, os seus ancestrais, a sua infância, o modo como conhece Konrád e como se tornam amigos inseparáveis e como, um dia, ao fim de 41 anos se encontram uma última vez. Depois, segue-se praticamente um monólogo de Henrik, tendo como receptor Konrád, em que este lhe conta a sua vida, as suas dúvidas e as certezas, confronta-o com acontecimentos que o seu amigo desconhecia, no fundo põe para fora tudo aquilo que estava dentro do peito durante anos, palavras que se acumularam com o tempo.

    Mas este é um livro que ultrapassa a história destas personagens. Impõe questões importantes, filosóficas, sobre os relacionamentos humanos, sobre o conhecimento da verdade, sobre o que esperamos dos outros e o seu significado. Fala sobre a solidão da espera por um momento que tarda, mas que sabemos que virá e é esse momento que nos faz viver para além de quase todas as pessoa que conhecemos.
    E, no fundo, quanto a mim, penso que o título do livro é mais do que adequado. As velas ardem até ao fim enquanto têm pavio, um caminho a percorrer, um objectivo a alcançar. E assim são as vidas também. Só vivemos enquanto ainda tivermos o que fazer, objectivos para lutar, coisas para alcançar. Estas duas personagens esperaram 41 anos para se encontrarem porque era esse o destino de ambas. Não podiam morrer sem antes falarem.

    E, no fim, o que parece importante não é a resposta às perguntas porque, se procurarmos bem dentro de nós, sabemos as respostas. Mas sim o que fazemos da nossa vida quando conhecemos e absorvemos a verdade.
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    "Essa pessoa que entregou a sua alma e o seu destino à solidão, não tem fé. Apenas espera. Espera aquele dia ou hora em que possa discutir mais uma vez, com a pessoa ou as pessoas que o levaram àquela situação, tudo o que o obrigou a aceitar a solidão. Prepara-se para tal momento durante dez ou quarenta anos, como se prepara para um duelo. Arruma tudo na sua vida, para depois não dever nada a ninguém, caso seja morto no duelo. E pratica todos os dias, como fazem os esgrimistas profissionais. Com que é que pratica? Com as suas recordações, para que a solidão e o fascínio do tempo não apazigue nada na sua alma e no seu coração."

    in, As Velas Ardem Até ao Fim.
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    Como adquiri este livro já há algum tempo e não consigo passar por ele todos os dias e não o folhear, vou começar a lê-lo, ao mesmo tempo que já vou a mais de metade do livro da Marion Zimmer Bradley. Assim, começarei hoje a ler As velas ardem até ao fim. Deixo-vos aqui a sinopse:

    "Um pequeno castelo de caça na Hungria, onde outrora se celebravam grandes saraus e cujos salões decorados ao estilo francês se enchiam da música de Chopin, mudou radicalmente de aspecto. O esplendor de então já não existe, tudo anuncia o final de uma época. Dois homens, amigos inseparáveis na juventude, sentam-se a jantar depois de quarenta anos sem se verem. Um passou muito tempo no Extremo Oriente, o outro, ao contrário, permaneceu na sua propriedade. Mas ambos viveram à espera deste momento, pois entre eles interpõe-se um segredo de uma força singular..."

    Sándor Márai nascem em 1900, em Kassa, uma pequena cidade húngara que hoje pertence à Eslováquia. Esteve exilado voluntariamente na Alemanha e em França até que abandonou o seu país definitivamente, em 1948, com a introdução do regime comunista. Emigrou para os Estados Unidos e a sua obra foi proibida na Hungria, fazendo com que o escritor caísse em esquecimento no seu país natal e no mundo. Só passadas várias décadas, aquando a queda do comunismo, é que Sándor foi redescoberto e é considerado até hoje como um dos maiores escritores da literatura centro-europeia.
    Acabou por se suicidar em 1989, poucos meses antes da queda do muro de Berlim, em San Diego na California.
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